Ministério Grão De Trigo

DIVIDINDO ENTRE A ALMA E O ESPÍRITO

Como podemos dividar a Alma e o Espírito? escrito por David W. Dyer

No livro de Hebreus, encontramos um conceito interessante. Isso é que existe, dentro de nos, duas “partes” distintas. Uma parte é chamada “a alma”. A outra é chamada “o espírito”. Também estamos informados que existe uma obra essencial da palavra de Deus (que neste caso é o LOGOS em grego) que é efetuar uma divisão entre estas duas partes de nosso ser.

No versículo 12 do capítulo 4 de Hebreus, lemos: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, por penetrar até mesmo ao ponto da separação da alma e do espírito, tanto das ‘articulações quanto da medula’ de nosso ser, e é capaz de discernir os pensamentos e as meditações dos nossos corações. E não há um ser criado que não seja transparente à sua vista, mas todas as coisas são descobertas e expostas diante dos olhos daquele, que é a fonte dessa palavra!”.

Assim, entendemos que essa separação dessas duas partes é muito importante para nós e para Deus. Mas por que isso é assim? O que há nessas duas partes do nosso ser que torna essa separação tão essencial?

Em primeiro lugar, devemos entender que essas duas “partes” são a localização de duas “vidas” diferentes e distintas. Segundo as escrituras, a alma é a habitação da “vida da alma” ou PSUCHÊ na língua grega. Esta vida é a que herdamos do nosso antepassado Adão. É esta vida que é comum a todos os homens na face da terra. Depois que nascemos, é essa vida que nos anima, ou em outras palavras, é a vida pela qual os homens vivem.

Mas também aprendemos com as escrituras que existe outra vida disponível para a humanidade. Essa é a vida do próprio Deus. Esta palavra é ZOÊ em grego. Aqueles que acreditam em Jesus recebem uma vida imortal e sobrenatural do Pai eterno. Eles são, de acordo com João 3:3,7, “...nascidos de cima". Nós lemos que podemos ser: “… regenerados {ter a vida de Deus nascida dentro de vocês} não por uma paternidade perecível, mas por uma paternidade imortal: pela palavra viva de Deus que existe eternamente” (1 Pe 1:23).

Agora, quando essa vida sobrenatural nasce dentro de nós, seu lar ou “localização” está em nosso espírito humano. Lemos: “O que é nascido do Espírito é nosso espírito humano” (Jo 3:6). Também, “Aquele que se une ao Senhor é um só Espírito com o Senhor” (1 Co 6:17).

Assim, vemos que a vida da alma está localizada em nossa alma e a nova vida espiritual está localizada em nosso espírito humano. Essa é uma verdade essencial da qual todo crente deve estar ciente. Cada vida tem um “local” específico dentro de nós.

Agora, há alguns aspectos dessas duas “vidas” que também precisamos entender. Em primeiro lugar, devemos perceber que a vida Adâmica em nossa alma é caída. É pecaminosa. Tem uma tendência inerente e inalterável de pecar. Essa tendência ao pecado faz parte da sua própria natureza. Além disso, essa natureza pecaminosa é incurável. Isso mesmo! Não há como mudar isso. Ela nasceu assim e continuará assim até morrermos.

Em segundo lugar, devemos entender que a vida divina que recebemos do Pai não peca. Sua própria natureza é santa. Isso também nunca muda ou pode mudar. Isso faz todo o sentido, visto que é a própria vida de Deus, o qual é perfeitamente santo. Nós lemos: “Aquilo que é nascido de Deus [isto é, o novo homem espiritual] não peca, pois é a semente sobrenatural de Deus que passou a viver nele. De fato, ele [o novo homem espiritual] não pode pecar pois ele é algo que foi gerado por Deus que é perfeitamente justo” (1 João 3:9).

Portanto, essas duas vidas estão em oposição uma à outra. Elas estão em conflito. Quando a vida da alma guia nossa vida, expressamos pecado. Mas quando a vida divina guia nosso viver, expressamos sua natureza santa. Nós somos ensinados: “Aqueles que são terrenos, seguem o padrão do homem terreno. Os que são celestiais exibem o padrão daquele que é celestial” (1 Co 15:48).

Isso nos mostra então por que a divisão sobrenatural entre a nossa alma e o nosso espírito é tão importante. Quando nossa vida da alma está na liderança, expressamos sua natureza caída. Quando a vida de Deus em nosso espírito está no comando, expressamos Sua natureza santa. Nós também somos ensinados: “… quando alguém está no Ungido, há uma nova criação dentro dele. O homem original tem sido ultrapassado, veja, um ser completamente novo tem sido gerado [o novo homem espiritual].” (2 Co 5:17).

Mas muitos crentes desconhecem essa distinção. A Palavra LOGOS de Deus não trabalhou suficientemente em suas vidas para fazer uma divisão clara entre essas duas vidas: a vida da alma (PSUCHÊ) e a vida do Espírito (ZOÊ). De fato, muitos não sabem que tal divisão poderia existir, por que ela é importante, ou como ela poderia impactar suas vidas.

Essas pessoas estão na escuridão. A “luz deste mundo” não brilhou suficientemente neles para que entendam essa verdade tão importante. Não têm havido separação divina entre a alma e o espírito.

A MORTE DA VIDA DA ALMA

No entanto, não precisamos permanecer na escuridão. Através das escrituras, Deus nos dá muita luz sobre esse assunto. Ele nos mostra claramente o caminho para sermos libertos do pecado. Isso mesmo, o plano de Deus é nos libertar completamente do pecado. Como isso é realizado? É realizado pela morte da nossa vida da alma.

Você vê, apenas os mortos não pecam. Embora muitas pessoas temam cemitérios, na verdade elas estão cheias de pessoas que não pecam mais. Enquanto nossa vida da alma vive e se expressa através de nós, nós pecaremos. Isso é inevitável. Mas os mortos não pecam mais.

Isso nos leva ao maravilhoso plano de Deus para nós. É colocar nossa alma-vida na morte e substituí-la por Sua própria vida santa e sobrenatural. Nossa libertação do pecado envolve um câmbio de vidas. Nós podemos trocar nossa vida por Sua vida. Este é o supremo milagre do verdadeiro cristianismo! Em Jesus, nós podemos morrer e ainda assim não sermos completamente eliminados do universo. Nossa vida da alma pode ser colocada na morte, no entanto, podemos continuar a existir porque outra vida tem nascido dentro de nós. No Ungido (Cristo) nós podemos morrer e ainda viver! (2 Co 6:9). Nele, depois da morte é a ressurreição do túmulo!

Vamos agora tomar algum tempo e ver o que Jesus nos ensinou sobre o Seu plano para a nossa vida da alma. Em Mateus 10:39 lemos: “Aquele que busca e descubra a sua vida da alma terá ela totalmente destruída, mas quem declara que a sua vida da alma dever morrer por minha causa, se achará” [descobrir em Deus quem ele realmente foi criado para ser].

Thayer define esta expressão “busca e descubra”, que em grego é HEURISKO da seguinte maneira:

1) chegar a um ponto, acertar um ponto, encontrar-se com 1a) depois de buscar, encontrar uma coisa procurada
1b) sem pesquisa prévia, encontrar (por acaso), cair com
2) encontrar por investigação, pensamento, exame, escrutínio, observação, descobrir pela prática e experiência

2a) ver, aprender, descobrir, entender
2b) ser encontrado, isto é, ser visto, estar presente
2c) ser descoberto, reconhecido, detectado, mostrar a si mesmo para fora, do caráter ou estado de alguém como descoberto pelos outros

2d) obter conhecimento de, vir a conhecer
3) descobrir por si mesmo, adquirir, ganhar, obter, procurar

É interessante que muitas pessoas deste mundo estejam procurando exatamente isso! Elas querem saber como aprimorar a si próprias, como melhorar suas vidas, e como ser mais bem sucedidas. Elas usam certas técnicas da alma para dominar os outros, para vender mais produtos, para mudar seu humor ou situação, etc. Elas estudam psicologia, aprendem estratégias de vendas, fazem meditação, e vão a sessões de “coaching” e seminários motivacionais. Elas fazem tudo o que podem para descobrir mais sobre suas vidas da alma e como podem melhor usá-la e aprimorá- la.

No entanto, as palavras de Jesus chegam em alta e clara voz. “Eles a terão completamente destruída”. Por que isso? É porque ela é pecaminosa. É egocêntrica. Resulta na expressão da natureza caída que é cheia de pecado. Não importa o que alguém faça para aprimorá-la, ela permanece pecaminosa.

Novamente em Mateus 16:24, 25 somos ensinados: “Se alguém de vocês deseja me seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me acompanhe. Porquanto quem quiser preservar a sua vida da alma, terá ela totalmente destruída, mas quem coloque a sua vida da alma à morte por minha causa, se encontrará” [descobrirá em Deus quem ele foi criado para ser].

Aqui Jesus foca no querermos “preservar” a nossa vida da alma. Muitas vezes gostaríamos de mantê-la. Nós gostamos de quem e o que somos. Nós não queremos morrer, então nos agarramos desesperadamente à nossa antiga vida. Talvez queiramos continuar a ser quem esta no controle de nossas próprias vidas e, portanto, não queremos perdê-lo e depender da vida de Outro. Possivelmente, temos medo de deixar de tentar controlar nossas próprias vidas pelo nosso próprio poder, e não queremos deixar que Alguém superior cuide de nós.

Jesus aborda essa condição em João 12:25, onde lemos: “Aquele que ama a sua vida da alma, a perderá; entretanto, aquele que tem uma aversão profunda a sua vida da alma neste mundo, se vigiará e fugir dela para dentro a vida eterna de Deus”.

Um cristão não deve amar sua vida da alma. Ele deve aprender a vê-la do ponto de vista de Deus. Ela é inerentemente pecaminosa. Se amarmos a nós mesmos, nunca experimentaremos tudo o que Deus tem para nós. Nós nunca seremos livres do pecado. Nós nunca viveremos em Sua vitória. Nosso amor pela vida do nosso “eu” nos fará agarrarmos a ela e nunca entregá-la à morte. Portanto, nossa experiência do processo de salvação será sufocada.

No livro de Marcos, capítulo 8, versículos 34, 35, temos ainda mais instruções de Jesus. Nós lemos: “E chamou a multidão para si juntamente com seus discípulos e disse-lhes, ‘Se alguém deseja seguir após mim, negue-se, tome a sua cruz e segue-me. Quem quiser preservar a sua vida da alma, vai ter ela destruída totalmente. Mas, aquele que declara que sua vida da alma dever ser posta à morte por minha causa e por causa das boas novas, estará sendo resgatado de si mesmo’” [através da transformação].

Aqui novamente, temos outro alerta sobre querer preservar nossa vida da alma. Aqui também nos é mostrado que a morte da nossa vida da alma através de nossa co-crucificação com Jesus requer nossa cooperação. Devemos estar dispostos e prontos para a nossa vida da alma ser morta. Se não, Deus então não pode nos libertar de quem e do que somos. Seu trabalho em nós será retardado ou até mesmo totalmente bloqueado.

Em Lucas 9:23, 24 também somos ensinados sobre a nossa vida da alma. Jesus diz: “Se alguém deseja seguir-me, rejeite-se totalmente, toma a sua cruz dia após dia, e siga-me. Pois quem quiser preservar a sua vida da alma, terá ela totalmente destruída. Mas aquele que concorda que sua vida da alma precisa ser posta à morte por a minha causa, este estará sendo salvo” [através de transformação].

Nesta passagem, assim como nas outras, vemos que a vida da alma não transformada será destruída. Por que tal coisa seria necessária? Por que Deus condenaria a vida da alma à destruição? É porque ela é inerentemente pecaminosa. Como mencionado anteriormente, isso é algo que não pode ser alterado. É da própria natureza da vida da alma pecar. É impossível mudar a natureza de uma vida, uma vez que é algo que é parte integrante da própria vida.

Visto que a natural, caída, vida da alma peca, ela não pode entrar na nova criação que Deus está planejando para nós. Se Deus deixasse alguém com uma vida assim entrar, mais cedo ou mais tarde ele ou ela pecariam. Isso é inevitável. Algum dia essa pessoa faria, diria ou pensaria algo profano.

Vamos pensar um pouco sobre isso. Quantos pecados foram necessários para destruir a presente criação? Apenas um! E esse pecado parece ter sido um “pequeno”, pelo menos do ponto de vista humano. Eva não matou ninguém. Ela não roubou algo, espancou alguém ou cometeu adultério. Ela “meramente” desobedeceu a Deus. No entanto, este pecado destruiu para sempre este mundo que Deus havia recentemente criado. Através desta única desobediência, o pecado se espalhou pelo mundo. Assassinato, roubo, estupro, guerra, doença, pragas e todo tipo de mal foram introduzidos.

Portanto, não é difícil entender que nenhum pecador — qualquer pessoa com uma vida e natureza pecaminosa — terá permissão para entrar na nova criação que está chegando. Se o fizessem, mais cedo ou mais tarde eles pecariam e destruiriam tudo novamente. É por isso que Deus destruirá a vida da alma de todo indivíduo. Ela está irreversivelmente contaminada com o pecado. Não há cura. Apenas a sua destruição resolverá o problema.

Mas como podemos continuar a existir se nossa vida é destruída? A solução de Deus para este dilema é prover à humanidade a possibilidade de receber uma vida substituta: a vida do próprio Deus. Esta vida, como mencionamos antes, não peca. De fato, não pode pecar, porque é por natureza santa. A vida de Deus expressa a natureza de Deus. Isso também não pode mudar. Novamente lemos: “Aquilo que é nascido de Deus [isto é, o novo homem espiritual] não peca, pois é a semente sobrenatural de Deus que passou a viver nele. De fato, ele [o novo homem espiritual] não pode pecar pois ele é algo que foi gerado por Deus que é perfeitamente justo” (1 João 3:9).

As boas novas, chamada de “o evangelho”, é de que o Pai está oferecendo esta vida aos homens. Ele, em Sua infinita misericórdia, decidiu compartilhar Sua própria vida com aqueles que creem em seu filho Jesus, o Ungido (ver Jo 3:16).

Ao recebermos esta vida, nós também podemos nos tornar santos. Ao permitir que esta vida se torne nossa fonte de viver, nós também podemos expressar a natureza santa dela. De fato, esta é a intenção de Deus. Ele enviou Seu filho ao mundo para que os homens pudessem se tornar santos como Ele o é. Isto não é alcançado pela nossa forte tentativa de não pecar, mas por receber a Sua vida e permitir que esta vida se torne a fonte de todo o nosso viver.

PORQUE ENTÃO OS CRISTÃOS NÃO SÃO SANTOS?

Talvez você tenha notado que muitos, se não a maioria daqueles que afirmam ser cristãos, não são santos. Por que isso é assim? Eles não receberam verdadeiramente a vida divina? Eles não são realmente “nascidos de cima?” Estas são perguntas válidas.

A verdade é que nenhuma vida nasce madura. Toda vida, seja planta ou animal, nasce imatura e então cresce. Isso é algo que deve nos instruir. A Bíblia usa as palavras “nascido de cima” ou “nascido de novo” para descrever nossa primeira experiência quando nos encontramos e recebemos o Senhor Jesus.

Isso significa que quando a vida de Deus nasce dentro de nós, ela nasce um bebê. É imatura. Sem dúvida, você tem ouvido o termo “cristão bebê”. Este é exatamente o caso de alguém que seja recentemente convertido. A vida de Deus dentro deles ainda está subdesenvolvida.

Entretanto, em tal pessoa, sua vida antiga, sua vida da alma, é desenvolvida. Está madura. Ela tem sido sua fonte de vida por toda a sua existência até esse dia. Por isso, frequentemente ela os domina. Em vez de serem conduzidos pela nova vida em seu espírito, em tempos de tensão, dificuldade, ou tentação, muitas vezes é a vida “antiga” da alma que é expressada. Isso resulta em pecado.

A solução de Deus para isto é que a Sua vida dentro de nós cresça, amadureça. Isso ocorre apenas gastando tempo em Sua presença. Sua vida cresce através da comunhão com Ele mesmo. A isso Ele chama de “comer” e “beber”. Essa verdade é detalhada em João 6:54-57 onde lemos: “Todo aquele que comer a minha carne e beber o meu sangue tem vida eterna do Pai, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é a verdadeira comida, e meu sangue é a verdadeira bebida. Aquele que se alimenta com minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai vivo me enviou e eu vivo pela vida do Pai, assim aquele que se alimenta de mim, viverá pela mesma vida através de mim”.

Então nós entendemos que passar tempo na presença de Deus comungando com Ele é o ato de “comer e beber.” Comer Sua carne e beber Seu sangue é que faz com que Sua vida cresça dentro de nós. De fato é a única maneira em que isso aconteça.

Caminhar com ou ter intima “comunhão” com Deus todos os dias é a única maneira para a Sua nova vida crescer. Aprender, ainda mesmo estudar mais e mais sobre a Bíblia, não alcançará isto. Conhecimento não produz crescimento. Estudar muito, também não. Somente comer e beber tudo o que Deus é através de um andar íntimo com Ele fará isso. Ele é o único alimento espiritual que fará com que o novo homem em nosso espírito amadureça.

Precisamos aprender a viver em intimidade com Deus! É essencial que vivamos em comunhão com Ele todos os dias! Se não, Sua nova vida não crescerá em nós e permaneceremos pessoas motivadas pela alma, como pessoas naturais. Nós não iremos expressar a Sua santidade. Nós nunca seremos instrumentos úteis para o Seu reino. Pior ainda, nossa vida pecaminosa e egoísta se tornará uma desgraça para nosso Senhor e a obra que Ele deseja fazer em nós e através de nós, não será realizada.

O FIM DA VIDA DA ALMA

Há, no entanto, outro lado desse processo. Este outro lado é a eliminação da nossa vida da alma. Por um lado, a nova vida de Deus em nós deve crescer, por outro lado, nossa velha vida deve morrer. Como então isso é realizado? Isso é realizado pelo nosso morrer com Jesus.

Isso significa que nós realmente experimentamos a Sua morte para nós mesmos. Essa maravilhosa verdade pode ser nossa por causa do milagre que Jesus fez por nós na cruz. Quando Jesus morreu, a humanidade morreu com Ele. Ele é chamado de “o último Adão” (1 Co 15:45). Ele representou perante Deus o fim da raça humana caída e o começo de um novo tipo de raça de seres chamados “os filhos de Deus”.

Agora devemos falar sobre um mistério que é impossível de explicar ou entender, mas bem possível de se experimentar. De alguma forma, Deus tornou possível que, através da morte de Jesus, nós também possamos morrer. Nossa velha vida da alma pode ser morta. Desta forma, nossa natureza pecaminosa pode ser eliminada. Sua morte por nós e nossa morte com Ele resolve o problema.

Isso é algo que é feito em nós pelo Espírito Santo, todavia requer nossa cooperação. Isso demanda nossa disposição para morrer. Tal morte deve ser o nosso maior desejo e também devemos estar prontos e dispostos a experimentar a dor e o sofrimento que a acompanham. Deus nunca fará nada dentro de nós que viole a nossa própria vontade. Ele respeita cuidadosamente a nossa liberdade de escolha que Ele nos deu. Portanto, essa morte nunca se tornará nossa experiência até que a desejemos ardentemente.

Quando Jesus ensinou, Ele explicou que aqueles que quisessem ser Seus discípulos deveriam estar “tomando a cruz”. Aqui Ele não estava falando sobre transportar um pedaço de madeira por aí. Ele estava falando sobre a nossa morte, a morte do nosso ego ou da vida da alma.

Nos dias de Jesus, quando você via alguém carregando uma cruz, ele nunca estava sozinho. Ele sempre era acompanhado por um grupo de pessoas. Estas pessoas eram soldados romanos. Além disso, ele não estava apenas vagando sem rumo, mas estava se movendo em direção a um objetivo: a morte. Para alguém que deseja ser um discípulo de Jesus, essa disposição e prontidão para morrer é essencial. Nós não estamos falando da morte física aqui, mas da morte da velha vida da alma e a tudo que isso envolve.

Qualquer um pode crer em Jesus. Isso geralmente tem pouco ou nenhum custo para a pessoa que assim crê. Mas segui-Lo, ser Seu discípulo, é algo a mais. Isto tem um preço. Embora não haja custo financeiro, isto nos custará a vida da nossa alma, o nosso “eu”. Somente aqueles que estejam dispostos a pagar este preço conhecerão esta experiência, juntamente com as vantagens dela. Quando estamos dispostos, o Espírito Santo aplicará a morte de Jesus a nós de uma maneira que nos transforme eternamente.

Por favor note que é o Espírito Santo que faz este trabalho de crucificação. Isto não é algo que podemos fazer a nós mesmos, esforçando-nos muito para nos tornarmos diferentes. É uma experiência que é nossa através do arrependimento e disposição para permitir que o Espírito de Deus aplique a morte de Jesus a nós.

Esta morte com Jesus não é um evento de uma só vez. É um processo ao longo da vida. Paulo disse que, para ele, esta era uma experiência diária (1 Co 15:31). Assim como o processo de crescimento espiritual no Senhor requer tempo e atenção, também a morte da vida da alma leva tempo. De fato, estas duas coisas, a vida espiritual e a morte da vida da alma, ocorrem juntas dentro de nós.

DIVIDINDO ENTRE A ALMA E O ESPÍRITO

Com esse fundamento, podemos agora voltar a discutir a divisão da alma e do espírito. Não deveria ser difícil para o leitor agora ver por que essa divisão é tão importante. Qualquer que seja do nosso viver que se origina da vida da alma não tem nenhuma utilidade para Deus, para nós ou para outros crentes. Pior ainda, uma vez que tem sua origem na vida antiga, produz pecado. Por outro lado, todo o nosso viver — nossas palavras, ações e até mesmo nossos pensamentos — que se originam com o Espírito Santo em nosso espírito, vêm de Deus. Estes então expressam Sua natureza santa.

Mas se nós não temos discernimento sobre a origem dos muitos impulsos e pensamentos que surgem dentro de nós, como poderemos saber a qual seguir? Se estivermos em escuridão espiritual, então não teremos como julgar a origem dos pensamentos e sentimentos que temos dentro de nós. Portanto, não saberemos qual deles devemos permitir nos guiar. Não saberemos quais seguir e quais recusar.

A solução para esse dilema de acordo com Hebreus 4:12 é o LOGOS ou a Palavra de Deus. Muitos podem considerar isso como sendo as palavras da Bíblia. Embora certamente inclua isso, o próximo versículo deixa claro que o escritor está falando sobre Jesus. Nós lemos: “E não há nenhum ser criado que não seja transparente à vista dele, mas todas as coisas são descobertas e expostas diante dos olhos daquele que é a fonte desta palavra.” É o Senhor que vê e compreende nosso ser mais íntimo. É Ele quem nos conhece completamente sem nada ser velado ou obscurecido.

Portanto, é através da nossa intimidade com Ele que esta divisão interna é produzida. É em Sua luz que nos é mostrado quais dos nossos pensamentos e sentimentos são da nossa alma e quais vêm do Espírito em nosso espírito.

Não estou de forma alguma tentando diminuir a importância das escrituras na vida de um crente. Elas são essenciais. Devemos estar meditando sobre elas todos os dias! Deus se revela a nós através das escrituras e, portanto, devemos tomar todos os benefícios delas, nos familiarizando com tudo o que está escrito nelas. Mais uma vez gostaria de enfatizar que este deve ser o nosso exercício diário.

Entretanto, a Bíblia não pode ser um substituto para o próprio Deus. Jesus é a luz do mundo. Ele declara que se estamos crendo Nele não andaremos em trevas, mas teremos a luz que vem de Sua vida dentro de nós (Jo 8:12). É a Sua luz que precisa brilhar em nossos corações. É Ele quem expõe a velha vida, a “carne” com todos os seus pensamentos e sentimentos caídos e egoístas.

É também Ele quem nos revela Seus próprios pensamentos, opiniões e sentimentos. De fato, o Seu plano é “renovar” a nossa mente (Rm 12:2), que se refere a mudar a forma como pensamos e compreendemos o nosso mundo, outras pessoas e tudo à nossa volta. Ele gostaria de reorganizar nosso ponto de vista moral sobre o que é certo e o que é moralmente errado.

Hebreus 9:14 nos diz: “...quanto mais o sangue do Ungido — o qual através do Espírito eterno ofereceu a si mesmo sem defeito a Deus — purificará seus entendimentos sobre o certo e o errado, para que não pratiquem atos que produzam morte, capacitando-os a servir o Deus vivo?”. E mais adiante lemos: “...nos aproximemos dele com um coração sincero, estando plenamente assegurados pela fé, tendo nossos corações purificados de um sentido degenerado do que é certo e errado...” (Hb 10:22).

Agora, na medida em que andamos com o Senhor, esta luz deveria estar aumentando. Deve estar se tornando cada vez mais brilhante (Pv 4:8). Conforme Sua vida cresce em nós, Sua luz aumenta. Ela expõe mais e mais a nossa natureza pecaminosa e o pecado que ela produz. Isso é normal. Isso é como as coisas devem funcionar na vida dos crentes sérios. Quando um jovem cristão; eu supus que depois de aproximadamente 20 anos de caminhada com o Senhor eu me sentiria realmente santo. Em vez disso, o oposto é verdadeiro. Agora, depois de mais de 46 anos com Jesus, vejo meu pecado com cada vez mais clareza. Quando você para para pensar sobre isso, deve ser verdadeiro. Quanto mais nos aproximamos da luz, mais ela expõe.

Quando vemos nosso pecado, isso nos traz a maravilhosa oportunidade de nos arrependermos. Nós podemos concordar com Deus sobre o quão feio é o que Ele nos está mostrando e também concordar com a Sua sentença sobre o nosso pecado. Sua sentença é a morte. Quando nós concordamos com Deus que tal vida com pecados e frutos tão feios desta vida que é pecado, não deveria existir em Seu universo, então Ele começa o Seu trabalho para aplicar a crucificação de Jesus à nossa vida da alma. Ele então trabalha para nos purificar de toda injustiça. Lemos: “Quando concordamos com o juízo de Deus sobre nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar nossos pecados e nos purificar de toda imoralidade de caráter” (1 Jo 1:9).

Essa exposição do pecado, que envolve separar a alma do espírito, é essencial para o crescimento espiritual. É algo importante para a nossa salvação em curso. Sem essa luz, nós não temos verdadeira ideia do que é certo e do que é pecado. Simplesmente tentar seguir os princípios e leis bíblicas não é suficiente.

É verdade que as escrituras podem nos guiar. Elas desempenham um papel importante em nosso conhecimento de Deus. Mas elas, sem a presença e unção do Espírito Santo, não podem penetrar nas profundezas do nosso ser. Elas não podem nos expor tão profunda e completamente quanto o Senhor pode fazer.

Esta profunda exposição, ou “corte” das dois gumes da afiada espada de Deus, que penetra até mesmo ao ponto de dividir nossas partes mais profundas, as “articulações e medulas” do nosso ser, é algo que todos nós desesperadamente precisamos. Sem isso, não temos nenhuma ideia de qual dos nossos impulsos tem sua origem em nós mesmos ou em Deus. Sem isso, não podemos andar verdadeiramente no Espírito, uma vez que temos pouca ou nenhuma luz sobre a fonte de nossos pensamentos, sentimentos e impulsos.

Consequentemente, muitos crentes experimentam confusão. Eles tentam seguir a Bíblia, mas sem muito sucesso. Eles acham a si mesmos fazendo, dizendo e pensando, coisas que eles sabem que são erradas, mas sem nenhuma ajuda para mudar. Sem a luz que nos leva ao verdadeiro arrependimento, possuem pouco ou nenhum crescimento espiritual e libertação de quem e do que são. Sem a divisão da alma e do espírito permanece ali apenas a escuridão e a confusão.

AS FACULDADES DA ALMA

De acordo com muitos estudiosos bíblicos, a “alma” do homem tem três partes diferentes ou “faculdades”. Elas são: a habilidade de pensar e raciocinar (a mente), a habilidade de sentir (as emoções) e a habilidade de decidir (a vontade). Agora; essas faculdades não são pecaminosas em si mesmas. Por exemplo, pensar não é um pecado. Ter sentimentos não é pecaminoso nem o é tomar decisões. No entanto, na humanidade caída, essas faculdades são animadas pela vida da alma. Elas são os instrumentos através dos quais essa vida caída se expressa. Portanto, essas habilidades ou faculdades funcionam de maneiras que são cheias do ego e do pecado.

O plano de Deus não é destruir essas faculdades. Ele não tem interesse em ter um filho não possa pensar, que não sinta nada ou que não possa tomar decisões. Sua intenção não é para nos tornarmos robôs. Em vez disso, Ele providenciou para nós outra raiz, outra fonte de vida que é a Sua própria. Sua intenção é que essas faculdades que Ele criou se tornem instrumentos, através dos quais Sua própria vida e natureza possam ser exibidas.

Em vez de sermos preenchidos com nossos próprios pensamentos, ideias, e opiniões, nossa mente pode ser preenchida com os Seus. Nós podemos ter a mente de Jesus, o Ungido (1 Co 2:16). No lugar de nossos próprios sentimentos, podemos saber como o próprio Deus se sente sobre as outras pessoas e sobre muitas situações diferentes. À medida que nos tornamos íntimos de Deus, em vez de tentar adivinhar o que Jesus faria ou sentiria em cada situação, podemos conhecer Sua vontade por meio da Sua presença em nós. Em vez de depender completamente da Bíblia como nosso guia, podemos ter o Guia em pessoa nos liderando. Ele pode compartilhar conosco Seus pensamentos, opiniões, sentimentos, desejos e até mesmo Sua vontade.

Desse modo, as faculdades da nossa alma se tornam as servas da vida divina em nosso espírito. Em vez de assumirem a liderança, sendo animados pela vida da alma caída, elas podem se tornar uma expressão exata de Sua personalidade. Ao submeter todas as nossas faculdades a Ele, Ele pode nos usar para revelar quem Ele é e o que Ele deseja para o mundo ao redor. Podemos nos tornar instrumentos úteis em Sua mão. Podemos nos tornar uma expressão Dele mesmo.

Como já foi afirmado, Deus não quer que nos tornemos robôs. De nossa parte deve haver uma voluntária e sensível cooperação com ele. Isso pode ser comparado a um casal dançando onde o homem está liderando, e a mulher sente e responde ao menor toque ou até mesmo olhar, de seu parceiro.

Não é a intenção de Deus mudar nossa personalidade completamente. Ele criou cada pessoa como um indivíduo com o propósito de revelar a Si mesmo de uma maneira única através cada personalidade. Podemos pensar nisso desta maneira. Ele não pretende pegar uma pessoa “verde” e torná-la “vermelha”. Ao invés disso, Ele pretende purificar a alma daquela pessoa de ser um “verde” opaco, onde somente o seu eu é visto, para um verde transparente, através do qual Sua luz possa brilhar por meio de sua personalidade de uma maneira única e bela.

Infelizmente, muitos crentes têm pouca experiência da divisão da alma e do espírito. Eles andam em escuridão. Eles dependem de seus sentidos e experiências naturais para guiá-los.

Por exemplo, muitos crentes dependem da sua mente. Talvez eles sejam especialmente inteligentes. Assim, seu conhecimento bíblico, sua capacidade de raciocinar, sua compreensão pessoal do mundo ao seu redor e até mesmo coisas no corpo de Cristo, são a base para suas palavras e ações. O cristianismo deles é mental.

Eles gostam de estudar, raciocinar e discutir muitos tópicos cristãos. Eles podem falar longamente sobre assuntos bíblicos. No entanto, frequentemente isso não transmite a vida de Deus. Tudo o que eles dizem pode ser verdade, mas de alguma forma não é vivo. Não edifica aqueles que estão ouvindo. Isto é porque a fonte é a vida da alma. Sua mente não está sendo usada pelo Espírito, mas em vez disso é animada por algo natural e humano.

É verdade que Deus pode e faz uso da nossa mente humana. Ele frequentemente nos dá compreensão ou “luz” sobre muitas coisas. Essas podem ser revelações das escrituras, sabedoria ou discernimento sobre os outros ao nosso redor, ou até mesmo luz sobre o que está acontecendo dentro de nós.

Deus pode e usa nossa mente de muitas maneiras diferentes. A chave aqui não é se pensamos ou raciocinamos, mas qual é a origem do nosso pensamento e raciocínio. É a vida da alma ou o Espírito Santo? A origem é do alto ou de baixo? Ou, é possível que espíritos malignos estejam inserindo pensamentos e opiniões em nossa mente?

Quanto precisamos do LOGOS vivo, em pessoa, para dividir entre nossa alma e nosso espírito. Precisamos desesperadamente de discernimento sobre a fonte de nossos pensamentos e raciocínios!

Outros crentes dependem de suas emoções para sua experiência cristã. Já que Deus às vezes nos dá emoções prazeirosas à medida que o adoramos ou seguimos, alguns chegam a confiar nessas sensações. Eles dependem de sentimentos para sua orientação. Eles começam a buscar urgentemente tais emoções em sua vida cristã. Se eles se sentirem bem, então eles estão corretos com Deus. Quando eles não têm esses sentimentos, eles acham que algo deve estar errado.

Mas essas emoções são muito pouco confiáveis. Elas podem ter muitas fontes diferentes. Nossa carne pode nos dar sensações agradáveis. Nossa vida da alma pode gerar sentimentos. Mesmo os maus espíritos, usando certos pensamentos, podem nos fazer sentir muitas coisas diferentes, sejam elas boas ou más.

Vamos imaginar que durante uma reunião dos crentes, Deus permita que o grupo experimente emoções fortemente prazeirosas. Isso não é uma coisa ruim. No entanto, é muito comum o grupo continuar a buscar tais sentimentos. Sua música torna-se mais e mais alta. O “pastor” grita e talvez até pule tentando estimular as emoções da audiência. O grupo investe grande quantidade de tempo e energia tentando recriar algo que Deus uma vez fez no passado. Isso é apenas cristianismo emocional e anímico (da alma).

Talvez ainda pior seja o fato de que o pecado possa nos dar sentimentos prazeirosos. Não é incomum para um crente que tem aprendido a seguir seus sentimentos em vez de Jesus, ser então enganado pelo pecado. Uma vez que certos pecados geram prazer, ele ou ela podem confundir isto como algo permitido por Deus ou mesmo bom, já que eles têm sido treinados a seguir seus sentimentos em vez do Espírito Santo. Quanto precisamos da Própria palavra LOGOS para dividir entre a nossa alma e o nosso espírito!

Outros crentes têm uma força de vontade muito forte e, portanto, podem controlar, até certo ponto, suas ações. Eles dependem de sua forte vontade para guiar o seu cristianismo. Eles são capazes, em uma medida notável, de conformarem a si mesmos com algum tipo de padrão bíblico de retidão. Não é incomum para tais indivíduos fortemente auto-disciplinados, olharem com superioridade para os mais fracos que não conseguem forçarem a si próprios a se conformarem à extensão que tais indivíduos podem.

Entretanto, isso também é um erro. Isso é apenas justiça/retidão própria. Não é a santidade de Deus sendo expressada. De fato, para o mundo espiritual, isso é repugnante. É apenas o ego, a vida da alma, vestindo-se numa imitação de retidão. Para Deus é como trapos imundos` (Is 64:6). Como a fonte de tal vida é a vida da alma, ela realmente expressa o eu e não a Deus. Portanto, é totalmente rejeitada por Ele.

Quanto cada crente precisa experimentar diariamente essa divisão entre a alma e o espírito! Quanto precisamos da palavra, o LOGOS de Deus que é o próprio Jesus, para cortar profundamente em nosso ser! Quanto precisamos da luz de Deus penetrar a escuridão de nossa alma e expor nosso ego e pecado!

Somente dessa forma nosso cristianismo será genuíno. Somente experimentando a separação da alma e do espírito estaremos nos tornando uma expressão do nosso Senhor e não de nós mesmos. Vamos inclinar nossas cabeças e corações diante de Deus, orando seriamente para que Seu trabalho de transformação seja feito em nossas vidas.

David W. Dyer

A maioria das citações bíblicas neste escrito usam a versão do Novo Testamento “Vida Do Pai” que esta para ser editado no futuro por este ministério.

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