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O EVANGELHO ENCOBERTO

O EVANGELHO ENCOBERTO

Capítulo 1

O Evangelho Encoberto, livro por David W. Dyer

Publicacao Grao de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: O EVANGELHO ENCOBERTO (Capítulo Atual)

Capítulo 2: A VIDA NOVA

Capítulo 3: OUTROS PROBLEMAS DE TRADUÇÕES

Capítulo 4: FÉ VERDADEIRA

Capítulo 5: TRANSFORMAÇÃO



“Pois aquele que anda nas trevas não sabe para onde está indo”
(Jo 12:35)

“... tenha muito cuidado em manter clara sua visão espiritual,
de forma que o que você pensa ser luz em tinão sejam trevas”
(Lc 11:35).



PREFÁCIO

O que está errado? Por que a igreja atual está num estado espiritual tão elementar? Por que tanto do que está sendo pregado hoje em dia tem tão pouco valor ou, até mesmo, tem erros? Por que tão poucos filhos de Deus parecem ter vitória sobre o pecado? Onde está o verdadeiro poder do evangelho?

É possível que estamos sendo enganados? O inimigo teria conseguido esconder do povo de Deus as verdadeiras coisas que Jesus veio fazer? É concebível que exista mais da mensagem do evangelho do que temos percebido? Este pequeno livro foi escrito para tratar destas questões extremamente importantes.

A segunda vinda de Jesus está muito próxima. Muitas dos artigos de notícias atuais estão cheias de acontecimentos, os quais prenunciam o que a Bíblia tem nos falado sobre os últimos dias.

Parece como se nós fossemos a geração que verá a volta de Jesus e o estabelecimento de Seu reino aqui na Terra. Contudo, é tempo para a restauração de alguns entendimentos importantes. É tempo para o povo de Deus se voltar para Ele e Sua verdade de maneira que seja transformado.

Que Jesus, em Sua graça, conceda que este texto possa ser usado para Seu propósito eterno.

David W. Dyer



Capítulo 1: O EVANGELHO ENCOBERTO


O verdadeiro evangelho, trazido a nós por Jesus Cristo, e depois proclamado pelos apóstolos que pregaram Sua mensagem, era uma mensagem de poder. Era uma mensagem que eles afirmavam ser capaz de mudar pessoas radicalmente, transformando as vidas daqueles que estavam crendo. Era uma mensagem que declarava que as pessoas podiam ser libertas de quem eram e de onde estavam.

Elas poderiam ser libertas da tendência humana natural para o pecado. Elas poderiam ser desacorrentadas do domínio dos espíritos malignos. Elas poderiam ser transformadas “de glória em glória” na imagem do próprio Jesus Cristo. Em resumo, aquela era uma mensagem gloriosa e poderosa que produzia uma mudança fundamental, compreensiva e revolucionária em homens e mulheres.

Atualmente, em todo o mundo, existem pessoas dizendo que “nasceram de novo”. Contudo, por alguma razão, esta mudança radical não está acontecendo em muitas destas vidas. Poucos parecem estar experimentando algo tão poderoso e transformador como as Escrituras descrevem. Não estamos vendo milhões de pessoas santas. Em vez disso, pouquíssimos estão sendo radicalmente transformados do que eram antes da “conversão”.

A igreja atual está cheia de indivíduos que não têm vitória sobre o pecado. Suas vidas não estão sendo transformadas. Eles são facilmente influenciados por espíritos malignos.

Ainda que alguns tenham “relances” de realidade espiritual durante momentos de louvor ou pregação, na maior parte do tempo, suas vidas não estão transbordando com a presença de Deus. Eles não são, de fato, um povo santo. Eles não estão experimentando a “fonte de águas vivas” enchendo-os completamente com a vida que Jesus proclamou.

Não precisa pesquisar muito para descobrir que a igreja atual está cheia de pecados. Adultério, fornicação, mentira, luxúria, inveja, falta de amor, divisões aflorando, indivíduos com fome de poder sobre os outros, alguns buscando dinheiro para si mesmos, e uma série de outros incontáveis pecados são comuns.

Qual é, então, o problema? Onde estamos errando? Por que as boas novas pregadas por Jesus “não estão funcionando” nas vidas de muitos daqueles que professam ser cristãos?

Neste escrito, vamos examinar algumas coisas que podem estar impedindo o agir de Deus e apresentar algumas soluções que possam nos restaurar para uma vida transformada e um relacionamento íntimo com Jesus.

DILUINDO O EVANGELHO

Parece que uma coisa tem acontecido: o inimigo tem conseguido diluir o evangelho e assim enfraquecer o seu poder. Ao longo dos anos, desde a igreja primitiva, ele tem sido bem sucedido em sutilmente alterar as boas novas de forma que seu efeito tem sido perdido ou grandemente diminuído.

Uma das primeiras coisas que podemos perceber é que poucos daqueles que “se tornaram cristãos” têm a esperança de experimentar a extensa e profunda transformação da qual Jesus pregou.

Tomando o exemplo das vidas dos outros cristãos ao redor deles (os quais não são bastante mudadas) e as mensagens que ouvem nos púlpitos, eles têm muito pouca, se existe alguma, expectativa de algo realmente radical acontecendo em suas vidas. Desta forma, o diabo vem tendo muito sucesso.

Se a vida de ninguém mais está sendo revolucionada e a mensagem de vários “homens de Deus” não parece apontar para esta possibilidade, então ninguém espera que muita coisa aconteça. Uma vez que as pessoas não esperem uma mudança dramática ou busquem isso, elas são neutralizadas por si mesmas para não experimentarem isso.

Como isso tem acontecido? O que foi mudado para que as boas novas ficassem tão enfraquecidas? Aqui vamos verificar vários aspectos deste problema. Contudo, isso não será fácil. Então, por favor, seja paciente à medida que cuidadosamente percorremos juntos os diversos pontos desta situação. Vai tomar algum tempo para tentarmos decifrar algumas das variantes que Satanás, com muita esperteza, conseguiu mesclar com a verdade de Deus.

Como você vê, o diabo é extremamente inteligente. Além disso, ele tem tido quase 2000 anos para trabalhar na corrupção da mensagem de Jesus. Seus sutis desvios da verdade vem sendo instilados na “teologia” cristã ao longo dos séculos e, por consequência, tem influenciados incontáveis teólogos, pastores, pregadores, tradutores da Bíblia e muitos outros.

O resultado é que a maioria dos que estão lendo este livro já traz plantado consigo, sem perceber, alguns erros ou um entendimento levemente alterado sobre o que Jesus veio fazer.

Talvez, sem notar, podem ter aceitado algumas verdades parciais. Alguns conceitos podem estar tão profundamente enraizados que o leitor poderia ficar raivoso ao ouvir alguém tentando mudá-los. Por vários motivos, poderia ser bastante difícil ver algo diferente do que tem pensado como verdadeiro por muitos anos. Porém, por favor, lembre-se que o propósito deste livro não é ofender, mas esclarecer.

Consequentemente, gostaria de estimular a todos os leitores aqui a manter a mente e o coração abertos. Quando terminar a leitura, vocês não são obrigados a concordar com o que está sendo dito. Contudo, nossa oração é que Deus possa usar esta mensagem para revolucionar suas vidas dando a vocês uma visão completamente nova do que Jesus pode fazer e fará por nós e em nós.

MODIFICANDO A MENSAGEM

Uma das táticas do diabo tem sido substituir parcialmente ou manter verdades incompletas na mensagem genuína do evangelho. Ele tem sido astuto o bastante para não mudar tudo. De fato, ele não tem necessidade de fazer assim. Em vez disso, ele diluiu o foco do evangelho, mantendo apenas uma pequena parcela da verdade, de forma que ele não tenha mais o mesmo poder de transformar radicalmente os crentes.

De muitas maneiras, Satanás tem conseguido alcançar seus objetivos – talvez da forma mais perniciosa – nos desvios sutis ou diluições contidas em muitas traduções da Bíblia. Como muitos cristãos acreditam que estas traduções são “a Palavra de Deus”, as sutis alterações não são percebidas ou questionadas.

Uma vez que estas traduções são aceitas como “verdade”, então o que está escrito nelas influencia uma grande quantidade de indivíduos. Além do mais, como muitas destas diluições foram introduzidas há séculos atrás, muitas traduções modernas continuam propagando a mesma versão enfraquecida da verdade, pelo fato que as traduções são influenciadas por outras versões mais antigas.

Todas as traduções que temos hoje foram feitas por homens. Estes homens, como todos nós somos, foram falíveis. Desta forma, é um erro sério imaginar que qualquer tradução que temos em nossas mãos é perfeita.

Embora estes indivíduos possam ter tido as melhores intenções quando fizeram seus trabalhos, evitar a influência da opinião humana é impossível. Uma tradução perfeita é impossível porque, quando traduzindo o Novo Testamento, a pessoa descobre muitas palavras gregas com muitas possíveis traduções no português. Em alguns casos, há mais de vinte possíveis traduções para uma só palavra grega!

Assim, o tradutor deve escolher sua palavra a partir destas muitas possibilidades. E, sem sombra de dúvida, ele (ou ela) escolherá palavras que correspondam com seu entendimento do evangelho. Assim, ele pode tornar pouco claro ou, em alguns casos, até mesmo ir contra outras possíveis traduções.

De certa forma, a tradução de uma palavra dependerá do contexto no qual é empregada. Mas isso também dependerá inteiramente do entendimento do tradutor sobre o contexto.

Como exemplo de quantas maneiras uma palavra grega tem sido traduzida, poderíamos escolher a simples palavra grega “EN” que, de acordo com Thayer, significa: em, por, com, etc.

A Bíblia King James traduz esta palavra como: “acerca, após, contra, quase, totalmente, ao redor, como, no, antes, entre, desta forma, por (causa de), dar-se totalmente para, aqui, para dentro, interiormente, principalmente, por causa de, acima, sobre, abertamente, exteriormente, um, rapidamente, em breve, de forma rápida, que, aí, daí, através, por toda parte, até, para, por baixo, quando, onde, com o qual, enquanto, com, dentro.” Uau, esta é uma grande variedade para uma pequena palavra!

Assim, é fácil perceber que é impossível uma tradução perfeita da Bíblia ser feita. Como alguém poderia selecionar a “perfeita” tradução cada vez que a palavra EN aparecer? Seres humanos, com suas próprias ideias e predisposições a respeito da mensagem de Jesus, não conseguem evitar que influenciem suas traduções.

Além disso, é muito importante para o tradutor de qualquer trabalho que compreenda o que está sendo dito. Se ele não entende bem, sua tradução pode não transmitir fielmente os pensamentos do autor.

Experimentei isso muitas vezes quando outras pessoas traduzem meus livros para o português. Uma boa coisa é que eu leio em português, pois, com muita frequência, ao revisar a tradução feita por várias pessoas, percebo que o tradutor não entendeu o que estava sendo dito. Então ele simplesmente escreveu o que pensou que eu pretendia dizer.

Muitas vezes, isso não transmite a verdadeira essência da sentença ou passagem. Na realidade, em alguns casos, era exatamente o oposto do que eu pretendia. Temo ao pensar em ter meus livros traduzidos para idiomas que eu não falo. Como saberei se o que está sendo transmitido é o que eu pretendia?

Por isso, é essencial para qualquer tradutor da Bíblia ter revelação. É preciso que Deus tenha revelado Seus mistérios para que o tradutor entenda profundamente a mensagem. Senão, ele colocará palavras no papel que não vão transmitir o que Deus está tentando dizer, e fará a mensagem de difícil compreensão, ou até mesmo dizer coisas completamente erradas.

O conhecimento da língua grega não é suficiente. A revelação de Deus não está baseada em fatos ou “conhecimento”. É necessário que o Senhor abra os nossos olhos espirituais de forma que compreendamos realmente Seus planos, Seus propósitos e Sua vontade. Do contrário, nossa tradução será defeituosa.

Simplesmente juntar palavras corretas em sentenças que soam religiosas não alcançará o objetivo. Embora as palavras possam estar corretas, elas podem não transmitir, e provavelmente não farão, a intenção do autor.

Consequentemente, não podemos e não devemos presumir que nossa tradução atual não contenha nenhum desvio sutil inadvertidamente introduzido por tradutores.

Portanto, como parte de nossa busca para chegar à verdade de Deus, será necessário olharmos alguns versos bíblicos comuns, que poderiam ser traduzidos de uma maneira mais clara. Examinaremos as traduções possíveis de algumas palavras no grego, buscando a tradução mais clara ou mais exata.

O EVANGELHO DO PERDÃO

Um exemplo de diluição do evangelho é o que chamarei de “o evangelho do perdão”. Um grande número de cristãos pensa que o principal propósito da vinda de Jesus a esta Terra foi para nos perdoar. Eles imaginam que Ele morreu e ressuscitou para satisfazer o Pai de forma que Ele pudesse nos perdoar. O entendimento deles em relação à obra de Jesus em nosso favor é resumido na palavra “perdão”.

Contudo, é verdade que Jesus pode nos perdoar. Esta é uma parte genuína do evangelho. De forma alguma este autor gostaria de menosprezar a benção maravilhosa de ser perdoado por Deus. Mas esta é apenas uma parte da mensagem de Jesus e, como vamos ver, este não foi o foco ou o propósito principal do que Jesus veio fazer.

Quando o anjo do Senhor apareceu a José, falando com ele acerca do plano de Deus para a criança no ventre de Maria, ele disse: “José, filho de Davi, não tema de receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. Ela dará a luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1:20,21 NVI).

Agora, se você pensar sobre isso, é uma mensagem diferente de “perdão”. O anjo não disse que ele “perdoaria os pecados de seu povo”. Aqui ouvimos que Jesus “salvaria” ou “libertaria” seu povo de seus próprios pecados. “Perdoar” é uma coisa. “Salvar de” é outra.

A pessoa somente perdoada irá provavelmente continuar pecando e, portanto, sempre precisará de mais perdão. A pessoa que foi liberta de seus pecados experimentou algo muito mais profundo. Esta pessoa efetivamente para de pecar!

O “evangelho do perdão “ parece presumir que os cristãos continuarão pecando e pecando, e Jesus continuará perdoando até o dia que ele voltará, colocando um fim neste círculo vicioso. Naquele dia, acredita-se, Jesus nos transformará num piscar de olhos e finalmente dará um fim aos nossos pecados.

As boas novas de salvação, por outro lado, é que Jesus pode (e realmente vai) nos libertar de quem e do que nós somos. Isto pode acontecer exatamente agora, hoje! Através de segui-Lo, podemos estar sendo transformados em pessoas diferentes – pessoas que não pecam mais. Estas boas novas incluem a ideia de “santificação” – que significa “se tornar santo”.

O conceito que o “evangelho do perdão” é a principal verdade da mensagem bíblica é reforçado pela tradução de vários versículos no Novo Testamento.

Por exemplo, em Mateus 26:28 nós lemos na versão Almeida Revista e Atualizada: “...porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”. Muitas versões também falam algo similar. Como poderíamos compreender esta palavra “remissão”? Na margem da minha Bíblia na versão Nova King James se lê: “perdão”.

Esta sentença foi pronunciada no auge do ministério de Jesus. Ele estava junto de seus doze discípulos comendo o que se chama de “a última ceia”. Este, com certeza, foi um evento chave em Sua vida, pouco tempo antes de Sua crucificação. Através desta tradução, nos é deixada a impressão que o propósito principal de Jesus foi nos dar o perdão.

Mas a palavra grega traduzida aqui como “remissão” é APHESIS, cujo significado é “liberar”, “libertação” ou “soltar da prisão”. Somente por analogia poderia significar “perdão”.

Certamente, pode-se argumentar que “remissão” é uma possível e correta tradução. Mas ela transmite fielmente o coração de Deus? O principal propósito do que Jesus veio fazer é mesmo o perdão? Ou nós deveríamos entender que ele veio para nos resgatar, soltar da prisão e nos libertar do pecado?

Parece que não há dúvida de que a missão de Jesus foi realizar uma libertação completa do pecado. À medida que progredimos neste texto, creio que você também compreenderá esta verdade.

Desta forma, vemos que a palavra escolhida na tradução deste verso tem um impacto muito forte em como compreenderemos o que está sendo dito.

Esta mesma palavra grega é repetida em Lucas 24:47, onde lemos: “...e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” (VARA).

E mais uma vez, o momento quando isto foi proferido por nosso Senhor – apenas alguns minutos antes de Sua ascensão aos céus – faz desta afirmação uma das mais importantes de todas que Jesus pronunciou.

Consequentemente, seguindo a tradução comum deste verso, muitos têm pregado energicamente o evangelho do perdão. Eles supõem que, como esta foi a última comunicação de Jesus a nós aqui na terra, esta deve ser a principal verdade de Sua mensagem. Mas estas são realmente as boas novas que Jesus veio trazer? Esta é a mensagem que, como supomos, deve ser pregada?

Vamos imaginar, por um momento, um prisioneiro condenado a um longo tempo na cadeia. Então supomos que, um dia, alguém vem a ele e diz: “Olha, você está perdoado”, mas não abre a cela onde ele está confinado e o deixa lá.

Estou certo que o prisioneiro fica feliz por ser perdoado, mas estou muito mais seguro que ele ia preferir que alguém abrisse a porta e o deixasse sair! Ele desejaria ser liberto, e não apenas perdoado. Precisamos ser livres dos nossos pecados, e não apenas perdoados por tê-los feito. Qualquer “salvação” que não inclua nos resgatar daquilo que somos e do que fazemos é incompleta. Tal mensagem se mostra drasticamente impotente em resolver nossa maior necessidade.

Mais uma vez, neste verso encontramos a mesma palavra grega – APHESIS – cujo significado é “libertar”, “resgatar” e “soltar da cadeia”. Pela tradução em “remissão” ou “perdão”, a mensagem se torna alterada e enfraquecida.

Também no capítulo 5 do livro de Atos, verso 31, muitas de nossas traduções reforçam para nós a ideia do evangelho do perdão. Lemos acerca do discurso de Pedro: “Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados” (VARA). Aqui, mais uma vez, encontramos a mesma palavra grega que poderia ser melhor traduzida como “libertação” ou “resgate” dos pecados.

Você percebe como o entendimento do tradutor aqui colore a mensagem? Você pode ver como o evangelho pode ser sutilmente diluído, deixando fora a ideia que nós podemos realmente ser livres do pecado?

E outra vez, talvez, gramaticalmente falando, “remissão” ou “perdão” poderiam ser considerados como uma tradução correta, mas estaria transmitindo fielmente o que o Autor estava dizendo? Refletiria a revelação verdadeira? Expressaria corretamente o que está no coração do Pai? Esta é a mensagem poderosa, transformadora de vida, que Jesus veio trazer? Penso que não.

Uma coisa que reforça o entendimento do “evangelho do perdão” é a noção muito comum que uma vez que recebemos Jesus, todos os nossos pecados são perdoados – os do passado, os do presente e mesmo aqueles do futuro. Esta ideia parece ser quase universalmente aceita na igreja atual. No entanto, isso não é verdade.

Certamente Jesus pode perdoar todo e qualquer pecado, mas o ensinamento que Ele já o fez carece de um exame cuidadoso.

Por exemplo, Jesus nos ensinou: “Mas se você não perdoar aos homens as suas ofensas {pecados}, também o Pai não perdoará suas ofensas {pecados}” (Mt 6:15 VARA). Como poderia ser possível que nosso Pai não nos perdoaria se Jesus já nos perdoou? Isto não é lógico.

Jesus também disse aos discípulos: “...se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mc 11:26 VARA). Como é possível que o pecado de alguém fosse retido, se ele já tivesse sido perdoado por Jesus? Obviamente, isso não pode ser verdade.

A tradução popular de um verso em Colossenses é comumente usada para justificar esta doutrina de “tudo já foi perdoado”. Na versão Almeida Revista e Atualizada, por exemplo, se lê: “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos” (Cl 2:13).

Mas no texto grego a palavra “perdão” não aparece. Embora o perdão possa estar implícito, isto não é afirmado. Em vez disso, a palavra grega usada aqui primariamente quer dizer “conceder como um favor”, ou “ser gracioso”. Pode também significar “resgatar”. Então, este verso poderia ser traduzido “...graciosamente nos resgatou por completo de nossos pecados”.

Você vê como este tipo de tradução é diferente? Você consegue compreender como esta mensagem é completamente diferente? Como mencionamos antes, ser resgatado do pecado é muito mais poderoso e completo que simplesmente ter os pecados perdoados.

Nos últimos séculos da igreja cristã, parece ter havido uma forte ênfase no perdão baseado no “sangue de Jesus”. Muitos hinos famosos foram escritos e muitas mensagens pregadas sobre este tema. Atualmente, muitos cristãos se alegram com a graça de Deus e o perdão de Jesus. Certamente isto não está errado. É óbvio que todos nós necessitamos desesperadamente sermos perdoados. Sem a graça e o perdão misericordioso de Deus estaríamos sem esperança alguma.

O SANGUE DE JESUS

É claro que o perdão é parte da mensagem do evangelho. É uma experiência essencial para cada crente. Por exemplo, lemos em 1 Jo 2:12, “Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome”. E também Tg 5:15 afirma, “E a oração da fé salvará o enfermo , e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”.

No entanto, a palavra grega para “perdão” usada nestes versos e no restante do Novo Testamento não é APHESIS, que, como vimos, significa “liberar”. Em vez disso, é APHIEMI, que significa “descarregar”, “deixar ir”, ou “ignorar”. Esta é uma palavra completamente diferente. É a palavra grega que aparece frequentemente nos quatro evangelhos, onde Jesus usa em Seus ensinamentos sobre o perdão.

Mas quando falamos sobre o sangue de Jesus, a mensagem central é realmente o perdão? Devemos acreditar que este é o propósito principal pelo qual Jesus morreu? Ou existe ainda uma verdade revelada mais importante que deveria ser nosso foco?

A ênfase no “perdão” parece ser sustentada por alguns versos como Efésios 1:7, onde lemos: “...no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados...” (VARA), e Colossenses 1:14 onde fomos ensinados que “...no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (VARA).

Mas novamente aqui a palavra grega traduzida “perdão” é APHESIS, que literalmente significa: “libertação” ou “soltar da cadeia ou prisão”. Só por analogia poderia significar “perdão”. Isso dá a estes dois versículos um significado totalmente diferente. Agora vamos rever estes dois versos que lemos recentemente.

Com uma nova tradução, surge uma realidade completamente diferente. Lemos: “É nele que temos a libertação pelo pagamento do resgate através de seu sangue, e também a soltura da cadeia de nossos pecados, de acordo com a liberalidade de sua graça...” (Ef 1:7). E, “É nele que temos nossa soltura por pagamento de resgate – a libertação dos nossos pecados – através do derramamento de seu sangue” (Cl 1:14).

Então vemos que estes dois importantes versos também não falam especificamente do perdão. Eles também não estão se referindo a ser perdoado dos pecados, mas a ser libertos das correntes do pecado que tanto nos escraviza. É uma liberação que todos nós, desesperadamente, necessitamos experimentar.

Estranhamente, Deus perdoou pessoas no tempo do Velho Testamento. Jesus também perdoou diferentes pecados antes de sua morte na cruz (Mt 9:2; Lc 7:48). Embora seja possível que estes episódios de perdão fossem baseados na expectativa da morte de Jesus, isto não foi claramente afirmado.

Por outro lado, é significativo que ninguém jamais foi salvo de seus pecados e transformado à imagem de Cristo antes da morte e ressurreição de Jesus! Ninguém jamais foi liberto do pecado antes que Jesus fosse crucificado.

Embora o perdão pareça ter sido concedido antes da cruz, a libertação do pecado não foi. Isto, portanto, reforça o pensamento que este trabalho poderoso e libertador foi o propósito central da obra de Jesus na cruz. Nossa libertação do pecado, então, destaca-se como a principal razão pela qual Jesus morreu.

LIBERTOS POR RESGATE

Você notou a frase “pagamento de resgate” nos versos anteriores? Muitas, se não a maioria das versões, traduz isto como “redimido”. É uma palavra que soa como boa e religiosa, mas o que a palavra grega significa de fato?

Nos dias de Jesus, pessoas mais importantes, ricas ou influentes quando capturadas em guerras etc. podiam ser mantidas prisioneiras ao invés de se tornarem escravas, desde que elas ou seus familiares tivessem dinheiro para pagar o resgate. Elas ficavam prisioneiras até o preço do resgate ser pago.

O resgate não era pago para perdoar estas pessoas. Isto é muito significativo. O perdão não tinha importância alguma para elas! O resgate era pago para libertá-las das cadeias do cativeiro ou escravidão. A palavra grega usada nestes versos é APOLUTROSIS, cujo significado literal é: “o ato de resgatar”, ou “pagar um resgate integral”.

Embora resgatar pessoas capturadas em guerra não seja comum atualmente, em muitos países a necessidade de pagamento de resgate ainda existe. Isto é necessário no caso de pessoas que foram sequestradas. A pessoa sequestrada é, muitas vezes, guardada em uma prisão secreta, geralmente em condições horríveis, até que alguém pague seu resgate.

Embora a palavra “redimir” tenha um significado similar, seu uso principal está no círculo religioso ou comercial e não mais transmite a gravidade desta ação. Quando jovem, minha familiaridade com a palavra “redimir” era no comércio, com um cupom na mercearia para conseguir um pequeno desconto em algum produto ou outro.

Nunca tinha ouvido ser usada no contexto sério e verdadeiro que se encaixa nas Escrituras. Jesus não pagou o resgate para meramente nos perdoar. Ele pagou o mais alto preço para nos libertar da prisão na qual estávamos.

Então, de qual prisão podemos ser libertos, considerando que a maioria de nós não está numa prisão física? É nossa escravidão ao pecado. É nossa inevitável tendência a pecar, fazendo coisas que são contra a natureza de Deus. É algo pelo qual não conseguimos nos libertar sozinhos. Fora de Jesus, não existe chance para libertação.

É também uma escravidão aos caprichos e influências de espíritos malignos, especialmente Satanás e suas hostes de principados e potestades que estão cruelmente governando esta Terra. Estas são as cadeias pelas quais Jesus morreu para nos resgatar. Ele não sacrificou a Si mesmo meramente para nos perdoar. Nossa necessidade era muito, muito maior que isso.

Jesus pagou o mais alto e possível preço para efetuar este resgate. Ele deu Sua própria vida. Ele não apenas morreu, mas morreu na forma mais macabra, sendo torturado e crucificado. Este preço impressionante e terrível foi necessário para nos libertar.

Então, mais uma vez, a decisão do tradutor em relação a qual palavra usar e como traduzir estes versos tem um efeito profundo no significado que será transmitido. A forma que o tradutor tem compreendido a mensagem do evangelho tem conduzido sua escolha de palavras. Consequentemente, a mensagem que recebemos através de nossas traduções modernas enfatiza o perdão e parece minimizar a ideia de libertação.

Mas agora estamos vendo que existe uma mensagem do evangelho mais profunda e mais poderosa “escondida” nas Escrituras. São “boas novas” muito melhores que as novas sobre o perdão de Deus! Embora de forma alguma gostaríamos de diminuir o valor do perdão de Jesus por aquilo que fazemos e temos feito, este jamais seria um substituto para Sua obra mais surpreendente em nos resgatar daquilo que somos.

É disso que realmente precisamos ser salvos! Precisamos ser resgatados, não apenas do que fizemos de errado, mas principalmente daquilo que somos e que produz este comportamento pecaminoso. Embora nós, certamente, precisemos de perdão para nossos pecados, temos uma necessidade muito maior de sermos libertos de nosso pecado! Esta distinção é extremamente importante.

“TUDO ESTÁ PERDOADO?”

Como você vê, um dos maiores problemas com a mensagem de “tudo já foi perdoado” é que, mesmo sem querer dizer isso, conduz as pessoas ao pecado. Mesmo que (assim espero) ninguém abertamente ensine isso, é uma conclusão lógica.

As pessoas podem e realmente raciocinam da seguinte maneira: Se Deus já perdoou todos os meus pecados, então não tem muito problema se eu pecar de vez em quando. Como é muito difícil, se não “impossível” evitar o pecado, e como o pecado muitas vezes nos parece tão atrativo e até mesmo prazeroso, que mal existe num “pequeno” pecado ou num pecado “ocasional”? Que diferença faria se uma pessoa pecasse mais ou menos, se ela já foi “completamente perdoada”?

Se não esperamos ser aperfeiçoados – que é realmente a libertação do pecado – e muitos outros parecem estar pecando com impunidade, por que um pecado a mais faria alguma diferença? É fácil notar que o pensamento de que Deus já nos perdoou de tudo e qualquer coisa, produz uma atitude menos séria em relação ao pecado.

Embora certamente muitos concordem que não deveriam pecar, muitos também parecem concordar que isso não faz muita diferença para Deus ou até mesmo que viver sem pecar é impossível.

A triste condição da igreja atual testifica a prevalência deste tipo de “evangelho do perdão”. É o resultado de uma mensagem que tem sido diluída e, portanto, roubada de seu poder. Esta situação lamentável parece ser, pelo menos em parte, produto de uma tradução inadequada das Escrituras.

Por centenas de anos os crentes têm se alegrado com o perdão, mas não experimentaram uma libertação completa. Gerações de cristãos estão sendo perdoadas mas têm permanecido em cadeias da sua natureza pecaminosa. Muitas vezes, a expectativa deles não é de que serão aperfeiçoados ainda nesta vida. Para eles, é uma esperança futura de algo que acontecerá após morrerem ou serem arrebatados.

Final do Capítulo 1

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: O EVANGELHO ENCOBERTO (Capítulo Atual)

Capítulo 2: A VIDA NOVA

Capítulo 3: OUTROS PROBLEMAS DE TRADUÇÕES

Capítulo 4: FÉ VERDADEIRA

Capítulo 5: TRANSFORMAÇÃO