Ministério Grão De Trigo

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Venha Teu Reino

NO PRINCÍPIO

Capítulo 5

Venha Teu Reino, livro por David W. Dyer

Publicacao Grao de Trigo

Escrito por David W. Dyer

ÍNDICE

Capítulo 1: VENHA O TEU REINO

Capítulo 2: OS DOIS REINOS

Capítulo 3: UMA BREVE CRONOLOGIA

Capítulo 4: O DIA DO SENHOR

Capítulo 5: NO PRINCÍPIO (Capítulo Atual)

Capítulo 6: A ORDEM DE DEUS – A FALHA DO HOMEM

Capítulo 7: O REINO DE DEUS ESTÁ NO MEIO DE VÓS

Capítulo 8: “SENHOR, SENHOR”

Capítulo 9: UMA JUSTA RECOMPENSA

Capítulo 10: PERDÃO E JULGAMENTO

Capítulo 11: O FILHO VARÃO

Capítulo 12: VIVENDO EM VITÓRIA

Capítulo 13: OBRAS DE FÉ

Capítulo 14: UMA PALAVRA DE ENCORAJAMENTO



Capítulo 5: NO PRINCÍPIO


No princípio, criou Deus os céus e a Terra. E, como parte desse trabalho criativo, Ele fez muitos anjos, um dos quais foi chamado de Lúcifer. Ele era o mais poderoso e belo anjo que Deus fez. Provavelmente, ele foi também o primeiro ser criado. No livro de Isaías, capítulo 14, versículo 12, ele é mostrado como “a estrela da manhã, o filho da alva”. Este verso alude ao fato de que, na aurora da criação, quando Deus estava apenas começando Suas obras magníficas, o anjo Lúcifer foi criado.

Ele não só era o anjo maior e mais poderoso, mas também era um querubim que morava próximo à real presença de Deus. O livro de Ezequiel, capítulo 28, revela alguns fatos interessantes sobre Lúcifer, conhecido hoje como Satanás. Embora, ali, o profeta esteja falando sobre alguém chamado de “o rei de Tiro”, a maioria dos intérpretes bíblicos concorda que essa passagem se refere ao diabo, em seu estado original. Nenhum homem ou ser terreno poderia se adequar à tal descrição.

Vamos ler juntos, começando com o versículo 12, a segunda parte do verso:

“Assim diz o Soberano, o Senhor: Você era o modelo da perfeição, cheio de sabedoria e de perfeita beleza. Você estava no Éden, no jardim de Deus; todas as pedras preciosas o enfeitavam: sárdio, topázio e diamante, berilo, ônix e jaspe, safira, carbúnculo e esmeralda. Seus engastes e guarnições eram feitos de ouro; tudo foi preparado no dia em que você foi criado. Você foi ungido como um querubim guardião, pois para isso eu o designei. Você estava no monte santo de Deus e caminhava entre as pedras fulgurantes. Você era inculpável em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que se achou maldade em você. Por meio do seu amplo comércio, você encheu-se de violência e pecou. Por isso eu o lancei, humilhado, para longe do monte de Deus, e o expulsei, ó querubim guardião, do meio das pedras fulgurantes.

Seu coração tornou-se orgulhoso por causa da sua beleza, e você corrompeu a sua sabedoria por causa do seu esplendor. Por isso eu o atirei à terra; fiz de você um espetáculo para os reis. Por meio dos seus muitos pecados e do seu comércio desonesto você profanou os seus santuários. Por isso fiz sair de você um fogo, que o consumiu, e reduzi você a cinzas no chão, à vista de todos os que estavam observando. Todas as nações que o conheciam espantaram-se ao vê-lo; chegou o seu terrível fim, você não mais existirá.” (Ez 28:12-19 NVI).

Que tremenda é esta passagem da Escritura! Ela nos revela o estado e a natureza de Satanás, como ele foi criado originalmente. A Escritura se refere a ele como “querubim guardião”. Lúcifer era um dos querubins: criado, escolhido e ungido por Deus para uma tarefa muito especial, sobre a qual falaremos mais detalhadamente.

Na primeira parte do livro de Ezequiel, podemos aprender mais sobre os querubins. Sabemos, por exemplo, que eles são criaturas aladas, possuindo, cada um, três pares de asas. Em vez de pés, eles têm cascos. E cada um tem quatro faces em sua cabeça, uma voltada para cada lado. Em vez de ter a parte traseira da cabeça e os dois lados dela, eles têm quatro faces. Uma é semelhante ao homem; uma é como um leão; outra é como um boi; e a outra é como a águia. Eles também têm outras aparências interessantes, tais como, rodas cheias de olhos que vão com eles para onde eles quiserem. Quando se movem, não se viram para a direção em que devem ir, mas simplesmente se movem naquela direção instantaneamente, parecendo rolar sobre as leis da natureza.

Por falar nisto, esses seres são semelhantes aos “seres viventes” ou “animais”, que encontramos mencionados no livro de Apocalipse. Muitas vezes, a Bíblia fala que o trono de Deus é cercado por querubins. O Salmo 80, versículo 1 diz: “...Tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor” (Veja também: 1 Sm 4:4; 2 Sm 6:2; 2 Rs 19:15; 1 Cr 13:6; Is 37:16; Ap 4:6-8). No livro de Apocalipse são “os seres viventes” que ocupam esta posição.

Observe que, enquanto o Apocalipse descreve cada “ser vivente” como tendo uma face diferente, Ezequiel vê cada querubim com quatro faces. Por que há esta aparente discrepância? O segredo é que o Apóstolo João estava olhando para os querubins, de uma só direção. Os quatro seres permaneciam um de cada lado do trono de Deus e cada um deles o encarava. Já que João os estava olhando de um ponto fixo, ele via a face correspondente em cada querubim. Conseqüentemente, lhe pareceu que cada um tinha uma face diferente. Entretanto, Ezequiel nos dá uma descrição mais completa e explica que cada querubim tem quatro faces.

Lúcifer era um desses quatro querubins. Esses seres celestiais têm a obrigação de circundar o Trono de Deus e de guardar a Sua presença. Com suas asas, eles ocultam, de qualquer espectador, a glória e a majestade do Deus Altíssimo. Estes querubins estão constantemente na presença de Deus, louvando-O e cobrindo a Sua glória com suas asas (Ap 4:8).

Os querubins também aparecem simbolicamente sobre a Arca da Aliança, que os filhos de Israel foram instruídos a construir enquanto estavam atravessando o deserto. Em cima da Arca, havia uma cobertura ou tampa. Entendemos que a tampa era plana, feita de puro ouro, e, em dois lados, havia um querubim esculpido, também de puro ouro. Os dois querubins ficavam um em cada extremidade, com suas asas estendidas para o alto, quase se tocando no centro da Arca (Êx 25:20). Era ali, debaixo das asas dos querubins e sobre o topo da Arca, que a presença de Deus aparecia. O Sumo Sacerdote entrava uma vez por ano no Santo dos Santos. Lá, ele aspergia o sangue dos sacrifícios sobre a tampa. Quando ele aspergia o sangue, a presença de Deus se manifestava, e o Todo Poderoso se comunicava com o sacerdote por entre os querubins de ouro. Estes eram símbolos dos querubins que guardam a glória de Deus, nos lugares celestiais.

Então, agora nós sabemos como era Lúcifer. Não há dúvida de que ele foi o primeiro ser angelical criado (Is 14:12) e, provavelmente, ocupou a posição mais alta no Universo. Ele era um dos querubins. Não é impossível dizer também que ele era o Sumo Sacerdote do Universo e quem levava toda a criação em louvor, oração e adoração ao Deus Altíssimo. Pelo menos, sabemos que ele entende muito de religiões, já que ele iniciou muitas falsas religiões. Talvez esteja usando a experiência anterior à sua rebelião para fazer isto.

Não apenas sabemos que Satanás era grande em glória, poder e beleza, quando foi criado, mas também que ele caiu, corrompeu-se e começou a pecar. Ele começou a ter pensamentos elevados sobre si mesmo e se exaltou por causa de sua grandeza. Seu orgulho foi sua destruição. Ele deve ter pensado algo assim: “Sou tão bonito, tão poderoso! Todas as outras criaturas da Terra me respeitam e me admiram. Por que eu preciso de Deus? Por que preciso me submeter a Ele e adorá-Lo? Vou começar meu próprio negócio.” E assim fez.

Claro que, para fazer isto, ele precisava estabelecer seu próprio reino. Ele tinha que seduzir um número de seguidores do reino de Deus, que iriam adorá-lo e obedecê-lo, em vez de amar e obedecer a Deus. Estou certo de que ele achou impossível ser mais reto, santo, justo, verdadeiro, perfeito e puro que o Deus Todo Poderoso. Então, ele tinha que escolher algo diferente. Tinha que basear seu reino em aspectos diferenciados.

A Bíblia nos diz que o diabo é o pai da mentira. Ele inventou a mentira por si mesmo, tornou-se a origem de todo tipo de pecado e estabeleceu seu reino sobre o ódio, trevas, luxúria, ganância, corrupção, e todo tipo imaginável de maldade. Ele alterou sua natureza para ser o oposto de tudo o que Deus é. E não há dúvida de que ele começou a visitar outros seres no Universo, para seduzi-los a se integrarem ao seu reino e a segui-lo em sua rebelião contra o Altíssimo. Como todos nós sabemos, ele ainda está empenhado nesta mesma atividade maligna, hoje.

É provável que Deus tenha dado a Terra a Satanás, como parte de sua jurisdição, algum tempo antes de sua queda. As Escrituras não são explícitas sobre essas coisas, portanto só podemos especular sobre algumas ideias, mas sabemos que, a partir de um determinado tempo, o diabo obteve autoridade sobre a Terra. Ele é chamado de “príncipe deste mundo” (Jo 12:31; 14:30; 16:11).

Também sabemos que os anjos algumas vezes são mencionados como “estrelas” (Jó 38:7; Dn 8:10; Ap 12:4). É possível que, no princípio, cada anjo tenha recebido uma estrela e os planetas adjacentes para governar sobre eles. Se isto for verdade, o domínio do diabo seria o nosso sistema solar, cujo centro é o sol. É interessante notar como a maioria das religiões pagãs adorava o sol e, fazendo assim, estavam na verdade adorando o diabo. Uma coisa é certa: o diabo é soberano deste mundo atual.

Quando estava tentando Jesus no deserto, ele proclamou ter autoridade sobre este mundo, e o Senhor não discutiu aquela autoridade. Ele apenas o repreendeu, citando a Sagrada Escritura. Outros textos das Escrituras nos mostram que o diabo tem autoridade e jurisdição sobre esta Terra (Jo 14:30; 16:11; 2 Co4:4). Com toda probabilidade, essa autoridade lhe foi dada antes de sua rebelião, enquanto ele ainda permanecia em sua posição original diante de Deus.

ANTES DOS SEIS DIAS

Já que parece correto afirmar que Satanás (Lúcifer), o mais alto ser angelical que Deus criou, recebeu esta Terra como parte de seu domínio antes da queda, não podemos deixar de imaginar como ela era naquele tempo. Embora a Bíblia não nos fale especificamente sobre essas coisas, ela nos dá algumas insinuações, das quais podemos tirar algumas conclusões razoáveis. O Livro de Gênesis afirma que Deus fez os céus, a Terra e tudo o que neles há em seis dias. Entretanto, esse relato inicial não dá uma explicação sobre quando os anjos foram criados e quando Satanás caiu, nem nos conta como esta queda afetou a Terra sobre a qual ele reinava. Para examinar mais minuciosamente, vejamos o primeiro versículo do Livro de Gênesis.

Nós lemos: “No princípio criou Deus os céus e a Terra” (Gn 1:1). Este primeiro verso nos fala da criação de Deus, e nós podemos estar certos de que, quando Deus cria alguma coisa, Ele a faz bonita e perfeita em cada detalhe. Mas, surpreendentemente, o segundo verso começa: “A Terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1:2).

Isto soa como se Deus tivesse criado uma bolha sem forma, uma terra escura, vazia, abandonada, e, então, começou a trabalhar nela, para fazê-la melhor. Embora Deus pudesse ter feito assim ou de qualquer outra maneira que Ele escolhesse, o restante de Seu trabalho criativo não foi feito deste modo.

Realmente, existe um modo melhor de ver estes dois versículos. De fato, existe uma melhor tradução deles, que nos ajuda a entender mais claramente o que a Bíblia está dizendo. A quarta palavra, do segundo verso, é comumente traduzida como “estava” (ou “era”) – “A Terra...estava sem forma”. Mas, esta palavra hebraica pode também ser traduzida por uma outra palavra. É igualmente válido traduzi-la por “tornou-se”. Esta única palavra pode ser traduzida de duas maneiras diferentes.

Por exemplo, essa mesma palavra é empregada na história de Ló e sua mulher quando fugiam de Sodoma e Gomorra. Estamos informados de que a mulher de Ló “tornou-se” uma estátua de sal. A mulher de Ló não estava originalmente uma estátua de sal, mas tornou-se uma, como conseqüência do julgamento de Deus sobre ela por causa de sua desobediência.

Portanto, seria gramaticalmente aceitável usar “tornou-se” no segundo versículo de Gênesis. Então, substituindo esta palavra, o versículo ficaria: “A Terra tornou-se sem forma e vazia”, dando-nos assim uma perspectiva completamente nova desta passagem. Veja como a mudança na tradução pode dar um entendimento, muito diferente.

A frase “sem forma e vazia” também pode ser traduzida de forma diferente, e fazer isto nos ajuda a olhar mais claramente o que aconteceu. As palavras hebraicas correspondentes são “TOHU WAH BOHU” e poderiam ser melhor traduzidas como “desolada e vazia”. As duas palavras TOHU e BOHU são achadas juntas duas outras vezes no Velho Testamento. Em ambos dos casos, estão se referindo claramente a uma situação em que Deus julgou e destruiu algo (Is 34:11 e Jr 4:23-27). Estes versículos não falam sobre criação, mas sobre julgamentos de Deus, que deixam algo devastado e vazio.

As duas palavras TOHU e BOHU são também achadas separadamente muitas outras vezes no Velho Testamento e, na maioria das vezes, elas se referem claramente a julgamentos de Deus, Sua ira ou Sua destruição. Somente umas poucas vezes elas podem ser empregadas para significar algo positivo e, em nenhuma dessas ocorrências, referem-se conclusivamente a algo bom.

Uma passagem que é particularmente surpreendente, referente a esse assunto, é Isaías 45:18, onde lemos: “Porque assim diz o Senhor, o criador dos céus; ele é Deus que formou a terra, e a fez; ele a estabeleceu, não a criou vazia.” (BA). A palavra hebraica para “vazia”, ali, é TOHU. É claro, então, que Deus originalmente criou a Terra não TOHU, isto é, não vazia ou “sem forma”, conforme algumas traduções podem nos levar a acreditar!

Unindo todos esses argumentos, surge um quadro. Torna-se claro que, no princípio, Deus criou os céus e a Terra perfeitos, conforme nós deveríamos esperar Dele, mas algo aconteceu. Em um determinado momento, algo ocorreu, e a Terra, então, “tornou-se” sem forma (ou desolada) e vazia. Isto deve corresponder ao período da rebelião de Satanás. Quando o deus deste mundo se rebelou contra o único Deus verdadeiro, corrompendo a si mesmo e sua natureza, no processo, ele corrompeu também o território sobre o qual ele reinava. É provável, então, que Deus tenha julgado aquele mundo e o destruído com uma enchente de águas. Esta é a condição em que encontramos a Terra na segunda parte de Gênesis 1:2: coberta pelas águas e em trevas e desolação.

Entretanto, não podemos dizer que esse versículo e alguns outros que estão associados a ele sejam incontestáveis. Porém, ainda assim, sinto que, com toda a probabilidade, foi assim que aconteceu. O que é insinuado a nós no segundo versículo do, capítulo 1, de Gênesis, é a maneira como as coisas realmente ocorreram. Para um estudo mais profundo deste assunto, veja: Earth’s Earliest Ages, de G. H. Pember.

Um outro ponto interessante é que a palavra “criou”, empregada no primeiro versículo de Gênesis onde se lê “Deus criou os céus e a Terra”, significa criar alguma coisa do nada. Na maioria das vezes em que se narra outros aspectos da “criação”, o verbo encontrado pode ser traduzido como “fez”, “Deus fez”, que se refere a algo sendo construído a partir de materiais já existentes.

A palavra “criou”, significando algo feito do nada, é usada duas outras vezes: no versículo 21, referente aos animais, e nos versículos 26 e 27, referentes à criação da vida humana. Os outros atos que Deus fez, durante o que convencionamos chamar de “seis dias da criação”, são, mais provavelmente, seis dias de restauração, uma restauração da Terra que Deus tinha criado originalmente.

Um bom exemplo disto se encontra em Gênesis 1:11, onde Deus diz: “Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez.” É possível que estas sementes que germinaram e começaram a produzir muitas variedades de plantas, já estivessem na Terra. A Terra devastada, que Deus estava restaurando, possivelmente continha sementes que Deus simplesmente determinou germinar, brotar e começar a dar frutos. A Terra “destruída”, sobre a qual lemos no versículo 2, do capítulo 1, de Gênesis, foi inundada com água. Na ausência de qualquer luz, esta água teria se congelado. Se houvesse luz anteriormente e esta luz tivesse sido tirada como resultado de um julgamento, isto resultaria em uma súbita e ampla “era do gelo”, matando a maioria ou a totalidade das formas de vida.

Possivelmente, essa camada de gelo cobrindo os oceanos e a Terra iria isolar as extremas profundidades do mar, próximas aos ventos térmicos, onde é concebível que algum tipo de vida marinha possa ter sobrevivido. Isto poderia explicar o “peixe fóssil vivo”, que é encontrado nas grandes profundezas. Tais pensamentos, é claro, são apenas especulações e não têm uma ampla base nas escrituras.

Então, o que podemos ter em Gênesis, capítulo 1, é uma descrição da restauração e recriação feita por Deus, de algo que Ele fizera perfeito e completo, mas que foi destruído por Satanás em sua rebelião. Embora não possamos provar conclusivamente nenhuma dessas coisas, e isso não tenha valor para basear a nossa fé, creio que você verá, conforme prosseguimos, como isso traz muito mais explicações do que dúvidas, e como esse entendimento provê um quadro muito mais nítido do que Deus está fazendo na Terra, hoje.

De fato, um bom critério para julgar a verdade de certos ensinamentos deve ser: que eles possam trazer mais explicação do que confusão. Isto quer dizer que eles ampliam nossa revelação referente aos propósitos de Deus, muito mais do que a obscurecem. Qualquer ensinamento sobre as Escrituras que desvende e expanda nossa compreensão a respeito de Deus deve carregar um certo peso de credibilidade.

A CAMADA DE ÁGUA

Há um fato interessante que vale a pena mencionar: é que, durante os chamados “seis dias da criação”, Deus suspendeu uma camada de água acima da atmosfera, cobrindo toda a Terra. Em Gênesis 1: 6-8, lemos: “E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas. Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez. E chamou Deus ao firmamento Céu”. Então, somos ensinados que Deus separou as águas. Algumas, Ele colocou acima do “Céu”, e outras abaixo do “Céu”. Este “céu” é o que conhecemos hoje como “ar” ou atmosfera.

Ter uma camada de água suspensa acima da atmosfera produziu vários efeitos. Um dos resultados foi que o clima e as condições atmosféricas eram muito diferentes do que conhecemos hoje. Somos levados a crer que, durante o tempo em que essa camada de água esteve intacta, não choveu sobre a Terra, e a vegetação era regada por uma neblina que subia do solo (Gn 2:5-6). Pode ser que essa camada de águas agisse como o vidro em uma estufa, e que a Terra tivesse uma temperatura única. Então, o clima não variasse muito de um lugar para o outro.

Talvez uma outra conseqüência dessa camada de águas seja que, naqueles dias, as pessoas viviam muito mais – aproximadamente dez vezes mais – do que vivemos hoje. Pode se teorizar que isto fosse um resultado da camada de águas suspensas. Embora ninguém saiba ao certo o que provoca a longevidade, é possível que algum tipo de radiação ou bombardeio de partículas subatômicas, atingindo a Terra, provenientes do espaço sideral, possam impedi-la.

A camada de águas poderia ter estado protegendo a Terra e os seus habitantes de tais coisas, absorvendo esses raios. Hoje, por exemplo, algum material radioativo é armazenado debaixo d’água, e a água absorve a radiação que é emitida. O que sabemos com certeza é que, quando a camada de água foi removida, a idade máxima dos indivíduos começou a declinar rapidamente.

Quando Deus inundou a Terra nos tempos de Noé, lemos que “as janelas do céu se abriram” (Gn 7:11). Assim, quando ocorreu a primeira chuva, a água que estava suspensa sobre o “céu” foi liberada, e choveu torrencialmente sobre a Terra, inundando-a completamente. Quando toda a água cessou, e o sol começou a brilhar de novo, o primeiro arco-íris apareceu, como um sinal da fidelidade de Deus (Gn 9:13). Naturalmente, já que nunca chovera anteriormente, eles nunca poderiam ter tido um arco-íris.

Imediatamente após esses fatos, a idade do homem começou a declinar. O que quer que seja que esteja bombardeando a Terra, vindo do espaço, começou a se desenvolver no solo, no meio ambiente e também nas plantas e animais, até atingir um tipo de equilíbrio. Esse processo durou centenas de anos, mas quando nós verificamos a idade dos descendentes de Noé, é fácil constatar a progressão descendente até chegarmos à idade que experimentamos hoje. Assim, parte do julgamento sobre a humanidade, nos dias de Noé, foi remover a camada protetora das águas e reduzir o número de dias nos quais o homem pudesse praticar o mal na Terra. Creio que esse julgamento também será suspenso durante o Milênio (Is 65:20).

Uma outra ideia casual, que pode ser conjeturada, é que a existência da camada de águas protegendo a Terra da radiação poderia grandemente distorcer os resultados de algumas técnicas científicas, empregadas para determinar a idade dos fósseis e ossos desse período.

DEMÔNIOS E ANJOS CAÍDOS

Outra coisa sobre a qual podemos especular é que, durante o tempo em que a Terra foi governada por Lúcifer, antes de sua rebelião contra Deus, pode ter havido um tipo de criaturas ou seres que a habitavam. Não sabemos com certeza, mas se tais criaturas existiram, quando Satanás se rebelou, sem dúvida ele as induziu a se rebelarem junto com ele.

Quando uma pessoa examina os fósseis, fatos interessantes emergem, os quais tendem a dar credibilidade a essa ideia.

Muitos dos dinossauros, por exemplo, que poderiam ter vivido nesse tempo, parecem ter sido animais malvados e agressivos, refletindo o caráter de seu amo. É até mesmo possível que o fóssil “humano”, que alguns afirmam ter encontrado (embora a evidência disto seja bastante insuficiente), possa ter sido um habitante da Terra nessa época.

De acordo com essa ideia, depois que essas criaturas (ou o que quer que fossem) se rebelaram junto com Satanás, Deus julgou aquela primeira criação com uma inundação de água, que destruiu todos os seres da Terra. Este é exatamente o quadro que vemos no segundo versículo de Gênesis: a Terra era sem forma, vazia, coberta pelas trevas e submersa nas águas.

Se tais seres existiram sobre a Terra, antes da rebelião de Satanás, isto nos explicaria a origem dos demônios. Muitos cristãos aprenderam que demônios são anjos caídos. Este não é necessariamente o caso. Embora seja uma crença tradicional dentro da Igreja, não existe um único versículo nas Escrituras que diga isso. Infelizmente, essa conexão foi feita principalmente por conjeturas, e muitos a aceitaram como um fato, sem nenhuma base nas Escrituras.

O que sabemos, entretanto, é que, nas Escrituras, há uma forte associação entre demônios (espíritos imundos) e água. Jesus disse que, quando um demônio sai de um homem, ele anda por lugares áridos, procurando descanso, porém não encontrando (Mt 12:43). Parece que os demônios precisam de água para ter “descanso”. Quando Jesus expulsou a legião de demônios, eles pediram para entrar nos porcos que estavam próximos. Estes suínos, então, se lançaram ao mar (Mc 5:1213). Evidentemente, aqueles demônios estavam ansiosos para ir para lá.

Há também um versículo em Jó que menciona “Os mortos tremem debaixo das águas...” (Jó 26:5-VCR). Quem são estes “mortos”, senão demônios? É duvidoso que esse versículo se refira apenas ao número limitado de marinheiros que haviam morrido no mar, antes que o livro de Jó fosse escrito. Todos os mortos, sejam afogados, ou de outra maneira, vão para o lugar que Deus preparou para eles, seja o Hades ou Sheol. Os que se afogaram não têm um tratamento especial e nem têm seus espíritos esperando no fundo do mar. Então, é claro que existe um grupo de seres no abismo ou mar, que não são dos seres humanos mortos.

Assim, podemos concluir que, na criação original, existiam criaturas na terra, com algum tipo de corpo. Depois do julgamento de Deus, seus corpos foram destruídos, mas seus espíritos continuaram a existir. Estes são os que agora chamamos de demônios, os espíritos imundos. E estes espíritos vivem ou preferem viver na água.

Embora novamente não sejamos capazes de tirar conclusões absolutas sobre essas coisas, há evidências nas Escrituras que dão suporte a essa teoria. Ela nos daria uma explicação para o fato de que os demônios desejam possuir ou habitar um corpo humano. Se anteriormente eles eram espíritos que habitavam algum tipo de corpo e depois foram despojados dele pelo julgamento de Deus, não há dúvida de que eles poderiam querer habitar um corpo novamente. Também pode ser que preferissem viver na água, porque poderiam ter a sensação de estar em um corpo físico.

Um outro versículo importante se encontra em Apocalipse 20:13, onde lemos sobre o julgamento final que está por vir: “O mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia; e cada um foi julgado de acordo com o que tinha feito” (NVI). Gostaria de submeter à sua apreciação o fato de que todos os seres humanos mortos (exceto os crentes, já que eles deverão ter ressuscitado anos antes), sejam aqueles que foram afogados ou não, deverão estar na “Morte” e no “Hades”. Portanto, os mortos que estão no “mar” devem ser algum outro tipo de criatura. Interessante é que estes serão ressurretos antes e, talvez, sejam julgados antes, já que foram feitos primeiro.

Os anjos, por outro lado, foram criados um pouco maiores que os seres humanos. Nós lemos que o homem foi criado um pouco menor do que os anjos (Sl 8:5). Eles podem aparecer em forma de corpo humano, quando assim o desejam, mas eles não têm necessidade, nem aparentam desejo, de possuir um corpo humano. Também somos ensinados que os anjos caídos não habitam no mar, mas sim no ar (Ef 2:2). Esses fatos nos mostram que os anjos caídos que estão reinando sobre esta Terra com Satanás têm sua morada na atmosfera, e não dentro do mar.

O quadro completo dos inimigos de Deus – os demônios no mar e os anjos caídos no ar – é claramente mostrado na passagem que descreve Jesus atravessando o mar em um barco (Mc 4:35-41). As ondas (casa de demônios) se levantaram e o vento (domínio dos anjos) soprou forte, enquanto Jesus estava adormecido, como se fizessem um esforço para destruí-Lo. Quando Ele acordou, repreendeu-os e disse: “Aquiete-se! Acalme-se!” (verso 39 NVI). Jesus Cristo tem completa autoridade sobre ambos, anjos caídos e demônios.

Talvez em sua caminhada com o Senhor, você tenha tido algumas experiências, que essa interpretação possa explicar. Lendo o Novo Testamento, sabemos que Jesus deu a Seus discípulos completa autoridade sobre os espíritos imundos, os demônios. Jesus, e depois os Apóstolos, os expulsava com uma palavra. Entretanto, algumas vezes nos achamos atormentados e atacados por forças espirituais que não obedecem instantaneamente ao nosso comando, quando as repreendemos. Freqüentemente, nos encontramos em uma luta espiritual que não é simplesmente resolvida com “uma palavra”.

Uma explicação para isso é que eles não são demônios, mas anjos caídos – principados e potestades – contra os quais estamos lutando. Embora tenhamos poder para vencer essas batalhas, hoje, ainda não recebemos “toda” autoridade sobre esses seres. Paulo diz que nós lutamos contra principados e potestades (Ef 6:12). Nosso combate contra eles é uma contenda e uma luta.

Se você tem completa autoridade sobre alguém, não há necessidade de lutar contra ele. Por exemplo, nosso combate contra os demônios é de absoluta autoridade e comando. Quando nós os repreendemos, eles fogem. Portanto, se você repreende os espíritos maus que estão perturbando você, e eles vão embora, isto pode indicar que são forças demoníacas.

Mas, por outro lado, se você precisa contender, empenhar-se, resistir e procurar ajuda de Deus por um longo período de tempo, é provável que esta seja uma luta contra os anjos caídos sobre os quais as Escrituras falam. Não estou dizendo que não possamos vencer essas batalhas, mas apenas que a maneira de lutar e vencer é diferente e deveria ser compreendida por aqueles que andam com o Senhor.

Hoje, há alguns crentes que, não conhecendo essas afirmações, têm tido a política de repreender e mesmo lançar insultos ao diabo e aos seus anjos. Tenho estado em algumas reuniões de orações, em que os crentes xingam o diabo e zombam dele, gritando, amarrando-o e repreendendo-o com alto volume, mas com pouca autoridade. Em 2 Pedro 2:10 e Judas 8 e 9, somos advertidos contra esse tipo de ação. Ali, encontramos fortes admoestações contra “insultar os gloriosos” ou “difamar seres celestiais”. Insultar quer dizer ultrajar ou xingar asperamente ou usar linguagem insolente. “Gloriosos” se refere a seres gloriosos ou anjos.

Algumas traduções usam a palavra “dignatários” em vez de “gloriosos”, mas o versículo seguinte torna claro que se referem ao diabo e aos seus anjos. Somos ensinados que esse insulto é uma coisa tola e carnal, que mesmo os mais altos e santos anjos não ousam fazer.

Irmãos, vamos ser cuidadosos em nossa luta contra o inimigo e agir de acordo com o Espírito, e não de acordo com a nossa carne. Não se desviem para ideias e práticas tolas e prejudiciais, mas focalizem sua atenção no Senhor Jesus Cristo, sirvam-No com sua vida e resistam aos ataques do diabo, em todo o tempo.

Agora, antes de divagarmos mais, vamos voltar ao nosso assunto. Depois do trabalho da primeira criação de Deus, a Terra original foi corrompida pela queda de Satanás e sua rebelião contra Deus, junto com todos os seus habitantes. Então, Deus julgou aquela Terra, destruindo-a com uma inundação. Essa Terra arruinada, corrompida, Deus decidiu restaurar, recuperar e trazer de volta para Si mesmo. Ele não permitiu e não permite que o diabo O vença. Ele simplesmente começou um trabalho adicional em Seu plano para esta Terra: restaurá-la para Si; afirmar Sua justa autoridade sobre ela; e enchê-la de novo com seres obedientes a Ele.

Sobre isto, estaremos falando no próximo capítulo. A discussão anterior tem sido um esforço para pintar um quadro e montar o palco, por assim dizer, do que estaremos vendo no restante deste livro. Se quisermos compreender os propósitos de Deus para esta Terra, é essencial que conheçamos a história da Terra. O Reino de Deus e Sua soberania sobre a Terra é algo que está no coração Dele. A visão da Terra que foi apresentada, aqui, pode ser de uma grande ajuda para tentarmos entender porque Deus está tentando de novo estabelecer Sua autoridade sobre ela.

Para vencer completamente Seu inimigo, Ele precisa retomar o controle do território que foi usurpado. Faz parte do plano de Deus, com o passar do tempo, restaurar tudo o que o diabo tem usurpado. E nós sabemos que esse plano se completará quando Jesus Cristo voltar para reinar. Finalmente, o Reino de Deus virá para a Terra.

Final do Capítulo 5

Ler outros capitulos online:

Capítulo 1: VENHA O TEU REINO

Capítulo 2: OS DOIS REINOS

Capítulo 3: UMA BREVE CRONOLOGIA

Capítulo 4: O DIA DO SENHOR

Capítulo 5: NO PRINCÍPIO (Capítulo Atual)

Capítulo 6: A ORDEM DE DEUS – A FALHA DO HOMEM

Capítulo 7: O REINO DE DEUS ESTÁ NO MEIO DE VÓS

Capítulo 8: “SENHOR, SENHOR”

Capítulo 9: UMA JUSTA RECOMPENSA

Capítulo 10: PERDÃO E JULGAMENTO

Capítulo 11: O FILHO VARÃO

Capítulo 12: VIVENDO EM VITÓRIA

Capítulo 13: OBRAS DE FÉ

Capítulo 14: UMA PALAVRA DE ENCORAJAMENTO