A Grain of Wheat Ministries

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12. CONSTRUINDO SOBRE A FUNDAÇÃO


Quando se referiu ao problema de divisões e ensinou os
novos crentes em Corinto sobre como construir a Igreja, Paulo
disse: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento além do
que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3:11). Em qualquer
tipo de construção, a fundação é, talvez, a parte mais importante.
É o ponto essencial do início de tudo aquilo que será feito
depois.
É precisamente neste ponto que tantas denominações, grupos
e “igrejas” têm, talvez inadvertidamente, se desviado do
plano de Deus. A grande maioria dos grupos cristãos de hoje se
baseia em um conjunto de doutrinas, práticas, revelações, sistemas
de liderança ou outras coisas semelhantes. A base deles –
o pensamento fundamental que os mantém unidos – não é simples
e puramente uma pessoa: o Senhor Jesus Cristo.
Claramente, todos os grupos cristãos têm algum alicerce em
Cristo, ou não poderiam ser considerados cristãos. Entretanto,
muitos têm colocado outros fundamentos lado a lado com a pessoa
de Jesus, como base de comunhão (Ez 43:8). Eles estabelece-
ram outros critérios como alicerce para suas reuniões e seus relacionamentos
com os outros. Então, constroem suas organizações
particulares sobre essas fundações paralelas e defeituosas.
Sem uma fundação apropriada, tudo o que é construído em
cima, corre risco de desabamento. Se a fundação não foi corretamente
assentada, toda a estrutura será imperfeita e colocada em
risco. Seja o que for construído sobre ela, nunca poderá ser feito
apropriadamente, a menos que a fundação seja primeiro derrubada
e refeita de maneira apropriada.
Apessoa de Jesus Cristo (e não a doutrina sobre Ele) é a nossa
única fundação. A mensagem deste livro pode ser resumida
neste único pensamento: precisamos voltar a Jesus Cristo em
nosso trabalho de construção. Ele é a fundação. Ele é a substância.
Ele é a fonte. Ele é a forma. Ele é a Cabeça. Ele é tudo em
tudo. Para mim, esse é um dos aspectos mais importantes da
compreensão sobre a Igreja que estivemos discutindo: o centro
está em Cristo: “...para em todas as coisas [Jesus] ter a primazia”
(Cl 1:18).

COMO CONSTRUIREMOS?

Então, como vamos contruir? Primeiro, apresentamos homens
e mulheres à pessoa de Jesus Cristo. Explicamos a eles
como precisam se arrepender completamente de seus pecados,
diante de Deus, para serem perdoados e receberem dentro deles
a Vida eterna de Jesus. A seguir, nós os incentivamos a se abrir
completamente a Ele, entregando suas vidas em total submissão
à Sua vontade. Isso deixará livre o caminho para Ele fazer Sua
obra transformadora dentro deles, sem qualquer tipo de impedimento.
O passo de total consagração a Deus é indispensável. Até
que estejam completamente submissos ao governo de Cristo,
eles não poderão entrar muito profundamente na experiência da
verdadeira Igreja. Por ser o corpo totalmente dependente de
Jesus para a sua direção diária e para a sua própria vida, quando
os cristãos têm uma submissão a Ele parcial ou incompleta, a
experiência de Seu corpo também será parcial.
Depois do passo da verdadeira consagração, os novos
crentes deverão ser ensinados a viver em um relacionamento de
amor com Deus e uns com os outros. Uma vida de amor e
serviço uns aos outros, e até mesmo aos não crentes, é a única
meta genuína de vida que qualquer cristão deve buscar. Este é o
foco e a direção de qualquer cristianismo verdadeiro. À medida
que permitimos Cristo viver em nós o tipo de vida centralizada
nesse objetivo, os outros serão capazes de ver um exemplo a ser
imitado e seguido.
Tudo isso é realmente muito simples. E seria ainda muito
mais simples, se tantos outros métodos de construção não fossem
tão comuns, obscurecendo a visão das pessoas. Um dos
maiores obstáculos a esse estilo de vida é a presença de estruturas
erradas que provocam confusão e cegueira a muitos filhos
de Deus.
Conseqüentemente, uma grande parte de nossa obra parece
estar desabando, ao invés de estar prosseguindo em sua construção.
Precisamos derrubar tudo o que é humano e secular e
voltar para Jesus Cristo. Antes de construir o novo, temos que
remover o entulho do passado. Precisamos nos empenhar para
trazer todo mundo de volta para a simplicidade que está em
Cristo (2 Co 11:3). Enquanto simplesmente vivemos a Vida de
Cristo em submissão a Ele e em unidade uns com os outros, a
verdadeira Igreja começa a ser vista.

PRECISAMOS SEGUIR O MESMO PLANO

Depois de termos assentado a maravilhosa fundação de
Jesus Cristo, então podemos começar a construir. Mas, com
quem podemos trabalhar? Quem se juntará a nós na construção
da morada eterna de Deus? Aqui encontramos um outro ingrediente
importante. Conforme mencionamos anteriormente neste
livro, podemos amar a todos, servir a todos, receber a todos e até
nos reunirmos com todos, porque eles são amados por Deus.
Mas, com relação à construção, há um outro requisito.
Para construir junto com outra pessoa, precisamos seguir o
mesmo plano. Precisamos construir com os mesmos padrões. Se
não for assim, muitos esforços e muito tempo serão perdidos.
Acabaremos frustrados e desiludidos.
Imagine que você queira construir um barco. Você consegue
uma planta e começa a construção. Digamos que o seu vizinho
queira ajudar. Naturalmente, você irá apreciar a sua ajuda. Mas,
e se a maior parte daquilo que ele fizer for perdida? Ele pode
cortar as tábuas de uma maneira diferente daquela que o seu
plano especifica. Ele pode unir as partes de uma maneira que
você terá que desmontar e refazer. Não apenas isso, ele pode
pegar coisas que você já fez e refazê-las de um jeito errado.
Então, você coça a sua cabeça e imagina o porquê disso. Por
que será que esse vizinho tão prestativo faz tudo errado? Por
que será que, em vez de ajudar, ele parece estar atrapalhando?
Então, um dia, você descobre a razão. Ele tem um outro conjunto
de planos. Ele pensa que você está construindo um avião, e
não um barco. Em vez de trabalharem juntos, vocês estão trabalhando
sem se entenderem. Muito tempo, esforços e materiais
foram perdidos.
Por esta ilustração podemos ver que, para trabalhar junto
com outros irmãos na construção da casa de Deus, precisamos
todos ter a mesma visão. Precisamos ter visto o mesmo plano e
estar trabalhando nele. Se não for assim, iremos experimentar
muita frustração e muito pouco progresso. Existe uma grande
quantidade de homens e mulheres de Deus que se desencorajaram
na obra do Senhor, porque tiveram muitas frustrações ao
trabalhar com outras pessoas.
Quando os outros têm um padrão “denominacional” e trabalham
com materiais seculares e lideranças humanas, você terá
muitas dificuldades em trabalhar nesse contexto. Alguns tentam
trabalhar dentro desses sistemas humanos ou até tentam mudálos,
mas é muito raro alguém obter sucesso assim.
Sempre existe, em quase todos os grupos, oportunidades de
orar por outros. Normalmente, é possível edificar alguns em
suas vidas particulares e ajudá-los em suas jornadas, em algumas
situações. No entanto, estruturas humanas artificiais limitarão
e inibirão um progresso maior em direção à meta de Deus.
Então, a melhor coisa a fazer é encontrar pessoas que tenham
a mesma visão. As coisas fluirão muito mais facilmente se
pudermos localizar e trabalhar junto com outras pessoas que
têm o mesmo plano. Com relação aos que têm uma visão diferente,
você poderá abençoá-los, orar por eles e confiar que O
Senhor irá cuidar deles e de suas obras para Ele. O seu papel é
simplesmente obedecer a Deus naquilo que Ele tem mostrado a
você.
Se você não conhece ninguém que tenha recebido a mesma
visão, então é bom você começar a orar. Ore para Deus colocar
você em contato com outros crentes que estejam buscando a
Jesus da maneira descrita aqui. Você pode ficar surpreso ao
descobrir que existem milhares de crentes como você, cujos
corações anseiam ver a casa de Deus construída e completa.
Se não há um grupo maior disponível, você deve orar por
um irmão que possa trabalhar junto com você. Um é o bastante,
porém dois ou três é bem melhor. Vocês podem, então, caminhar
juntos, buscando a face de Deus, permitindo que Ele construa
todos juntos, na Sua fundação. Isso levará tempo, possivelmente
anos de vida e de interação conjunta.
O viver juntos não é fácil. Mas não há atalho. Você deve permitir
que Jesus os estabeleça Nele, de um modo sólido e real,
que somente Ele pode fazer. Portanto, devemos nos preparar
mentalmente para isso.
Precisamos pagar o preço emocional e espiritual que isso
envolve. Também precisamos desejar investir bastante tempo,
provavelmente muitos anos, até mesmo toda a nossa vida
servindo a outros, enquanto Deus faz a Sua obra neles e também
em nós.

ONDE ENCONTRAREMOS ESSES OUTROS?

Eis algumas questões que vêm à mente de muitas pessoas
quando elas pensam na experiência da Igreja sem liderança
humana: “Com quem vamos nos reunir? Com quem teremos
comunhão diária e relacionamentos? Quem são aqueles a quem
devemos servir em amor?” A resposta é bastante simples. O
próprio Deus irá trazer essas pessoas às nossas vidas.
Seguindo Cristo, iremos encontrar muitas outras pessoas no
decorrer de nossas vidas. Algumas delas serão pessoas trazidas
a nós por Deus; podem ter algumas necessidades com as quais
podemos lidar; podem estar famintas daquilo que Deus está
nos mostrando; elas podem já ter uma visão semelhante à nossa
e estar procurando alguém com quem possam colocá-la em
prática. As possibilidades aqui são incontáveis, mas o resultado
é o mesmo. À medida que andamos no Espírito, teremos uma
“revelação” espiritual de que essas pessoas estão sendo colocadas
por Deus ao nosso lado, por razões que somente Ele conhece.
Não temos o direito de separar e escolher pessoas que nos
agradam, nem a liberdade de rejeitar aqueles que têm problemas
sérios ou que podem ser considerados difíceis. Quando nós,
andando em intimidade com Deus, tomamos conhecimento de
que Ele colocou alguém em nossas vidas, precisamos amar e
servir essa pessoa em Seu nome.
É claro que, como seres humanos, só podemos ter um
número limitado de relacionamentos íntimos. Nossas capacidades
são finitas. Se temos apenas poucos irmãos realmente íntimos,
isto será suficiente. Então, podemos concentrar nosso ministério
e nosso amor naqueles com quem temos intimidade,
edificando uns aos outros debaixo do governo de Deus.
Naturalmente, também teremos relacionamentos com outros
que estão mais “distantes” espiritualmente. Não estou dizendo
que deveríamos ter um círculo de amigos íntimos que concordem
conosco e excluir o resto. A questão é que sempre teremos
irmãos mais intimamente ligados a nós e outros que têm uma
conexão menos íntima.
Aqueles com os quais temos uma grande intimidade irão, da
mesma forma, ter relacionamentos com outros que estão mais
distantes de nós. Estes, por sua vez, terão outros com os quais
têm mais comunhão, e assim por diante. Em breve, haverá uma
rede completa de crentes inter-relacionados, amando e servindo
uns aos outros.
Talvez uma boa analogia para isso seja um muro de tijolos.
Cada tijolo tem um tijolo em cada lado e ainda um outro tijolo
em cima e outro embaixo. Esses outros tijolos também têm tijolos
tocando-os, que também terão outros tijolos em contato com
eles. O todo, então, é que faz o muro. À medida que os crentes
vivem em uma comunhão de amor com os que lhes são íntimos,
o todo, então, fará a Igreja.
Ninguém (além de Jesus) necessita criar ou controlar esses
relacionamentos. Não há necessidade de que alguém tente organizar
ou planejar tal coisa. É o próprio Deus quem junta os
membros do corpo conforme Lhe agrada (1 Co 12:18). Ele é
quem está no controle dos relacionamentos. À medida que Ele
traz outras pessoas para perto de nós, e permitimos que Ele
construa uma comunhão íntima entre nós, Sua morada eterna
está sendo construída.
Acasa de Deus é viva, algo “orgânico”, por assim dizer. Não
há um manual para ensinar como fazer. Não há planos específicos,
com descrições passo a passo, que possamos executar para
ter certeza que as coisas estejam sendo feitas corretamente. Só o
Espírito Santo pode produzir, e certamente o fará, se Lhe dermos
nossos corações e nossas mentes, os relacionamentos e a
comunhão de que estamos falando aqui. Precisamos ter fé, pois
se O seguirmos dia a dia, Ele irá construir a Sua Igreja, conforme
Ele prometeu.
Embora muitas pessoas esperem por algo pré-definido,
organizado e planejado, a casa de Deus nunca poderá ser cons-
truída desse modo. Não existe um método sistemático que possamos
usar para produzir aquilo que Ele deseja. Somente mantendo
um relacionamento diário de fé com nossa Cabeça é que
podemos conceber essa experiência gloriosa.
A inteligência humana e a habilidade organizacional devem
ser descartadas. Todos os atributos maravilhosos da noiva de
Cristo só podem ser conhecidos por aqueles que caminham em
comunhão íntima com Jesus.

OS MEMBROS QUE TÊM MAIS DONS

É claro que às vezes haverá membros do corpo com dons e
ministérios que vão muito além de outros irmãos com os quais
têm intimidade espiritual. Naturalmente, Deus os irá direcionar
a usar seus dons para servir o Seu corpo de uma maneira mais
ampla. Pregar, ensinar, curar são ministérios que toda a Igreja
deve aproveitar. Ninguém está sugerindo, de maneira alguma,
que tais ministérios de maior alcance são desnecessários ou
rejeitáveis.
Entretanto, isso não nega a necessidade daqueles que têm
tais ministérios estarem conectados em comunhão espiritual
mais íntima com um pequeno círculo de irmãos. O fato deles
terem um ministério que abrange a muitos não significa que não
necessitem de uma comunhão íntima com irmãos especialmente
próximos. Ninguém deveria negligenciar tal comunhão espiritual
com outros e se concentrar somente em “seu próprio ministério”.
Crentes que agem assim correm um grande risco de se
tornarem isolados, como uma ovelha longe do rebanho e, portanto,
uma presa fácil para o inimigo. Nossa comunhão com outros
crentes, em maior intimidade, irá providenciar uma
maneira viva de Deus trazer edificação, inspiração e mesmo correção
às nossas vidas. Tal comunhão é uma experiência essencial
para todo e qualquer crente.

NOVA TRANSPARÊNCIA

Quando estamos andando junto com outros, o que esperamos
é encontrar grandes bênçãos. Certamente, teria uma generosa
quantidade de graça e satisfação em nossa comunhão.
Mas, algo mais pode ocorrer. Podemos começar a ver o pecado
e enxergar as fraquezas e as falhas dos outros. Suas vidas se
tornarão mais e mais transparentes para nós.
Isto ocorrerá por duas razões. Primeiro, quando Deus nos
coloca mais perto de outras pessoas, temos uma comunhão freqüente,
senão diária. Assim, a proximidade resultará em um
conhecimento mais profundo desses irmãos. É possível algumas
pessoas se reunirem com outras durante anos, talvez sendo
membros da mesma estrutura religiosa, sem conhecer os pecados
e as faltas dos outros. Mas, quando entramos em comunhão
espiritual no corpo de Cristo, é inevitável que comecemos a
saber mais uns dos outros, nossas qualidades e nossos defeitos.
Asegunda razão é que isso é obra do Espírito Santo. Ele veio
para “convencer o mundo do pecado” (Jo 16:8). Então, quando
começamos a nos abrir para Ele e para a Sua obra edificadora, o
pecado começa a ser exposto. À medida que “andamos na luz”
(1 Jo 1:7) junto com outros, esta luz revela muitas coisas. Ela
“torna manifesto” (Ef 5:13) o que havia sido anteriormente
escondido.
Quando começamos a descobrir que nossos irmãos não são
perfeitos; quando vemos que eles são pecadores como nós;
quando sua natureza caída e não transformada começa a se
expressar; qual é a nossa reação? O homem natural tende a
retroceder. Nossa natureza humana gostaria de estar distante
dessas pessoas com tais problemas desafiadores. Mas esta não é
a resposta de Deus, nem a Sua solução.
É aqui que descobrimos o verdadeiro teste de amor por Deus
e de nosso compromisso com os irmãos. É aqui que vemos se
estamos prontos e desejosos de viver e construir a casa de Deus.
Aqui temos a maravilhosa oportunidade de derrotar nossas
reações naturais. Podemos, pela graça de Deus, perdoar os outros;
olhar para eles através dos olhos de Deus; negar a nós mesmos
as nossas respostas humanas; e procurar a graça de Deus
para tratá-los como Ele o faria. Um outro modo de pensar sobre
isso é que nós podemos amá-los como a nós mesmos (Mt 22:39).
Esse é um desafio real. Eis a verdadeira prova de nossa cristandade.
Se não pudermos amar nosso irmão, nunca experimentaremos
a plenitude da única Igreja verdadeira. Se falharmos
aqui, nunca seremos edificados juntos sobre a fundação de
Deus.
Quando simplesmente nos afastamos daqueles que são um
pouco difíceis ou pecadores, nunca seremos bem sucedidos em
ver a casa de Deus edificada. Na falta de estruturas artificiais
que mantenham o povo reunido, só temos o amor de Deus, do
qual podemos depender. O genuíno corpo de cristo edifica-se a
si mesmo em amor (Ef 4:16).
Mais uma vez, vemos que é aqui que a cruz de Jesus aparece.
Quando vivemos com outros no amor de Deus, nosso “ego” precisa
ser crucificado. Para ser bem sucedido vivendo em amor,
precisamos morrer. Nossas reações naturais, opiniões e desejos
devem ser deixados num túmulo. A alma caída não pode superar
tal teste. Somente a Vida de Deus dentro de nós é capaz de
viver em amor e harmonia com todos aqueles a quem Ele escolheu.

SENDO EDIFICADOS JUNTOS

Seguindo a trilha do amor e da negação de nós mesmos,
depois de algum tempo descobriremos que nossa união e
comunhão cresce com outros irmãos de mentes semelhantes.
Perceberemos que Deus está nos dando uma vitória sobre nossas
reações humanas às falhas e fraquezas deles. Teremos ouvido
todas as acusações que o diabo levantou contra eles; teremos
observado todos os seus pecados e fraquezas óbvias; estaremos
cientes de suas falhas humanas; e, ainda assim, nós os amaremos.
Isso, então, é o princípio da edificação feita por Deus; é uma
construção sobre a fundação Dele, Jesus Cristo; é uma união
eterna entre nós e Deus e entre nós e os outros; é algo que passou
nos testes desse mundo e se tornou eterno. Quando já tivermos
visto a verdade sobre os outros e continuarmos a amá-los;
quando o diabo já tiver compartilhado conosco sobre todos os
pecados e as falhas deles; quando já tivermos superado nossas
reações e sentimentos; o que permanecerá é algo que irá durar
para sempre.
Quando cooperamos com Jesus e permitimos que Ele nos
edifique juntos dessa maneira, então a Igreja se torna menos vulnerável
e, com o passar do tempo, invencível aos ataques do
inimigo. No Velho Testamento, as pedras para o Templo foram
cuidadosamente colocadas. Elas eram cortadas, serradas e, possivelmente,
lixadas, até que se encaixassem perfeitamente.
Quando eram colocadas em seus lugares no Templo, costumavase
dizer que elas se encaixavam tão bem, que nem mesmo a
lâmina de uma faca poderia ser colocada entre elas.
Vejam, os ataques do diabo são como a lâmina de uma faca.
Ele adora colocar suas insinuações sobre algum irmão de nosso
relacionamento. Quando suas palavras encontram espaço em
nossas mentes e em nossos corações, então ele começa a torcer
essa faca para nos fazer separar. Essa é a sua principal técnica
para destruir a obra de Deus: nos “revelar” as falhas e os pecados
dos outros. Então, ele usa essa informação para destruir o
amor que nos deveria manter unidos.
Mas, quando somos bem sucedidos em viver em amor;
quando as acusações do diabo não encontram mais lugar em
nossos corações; quando ele já usou todos os seus esforços, mas
falhou em nos separar; então as portas do inferno começam a
tremer. Quando derrotamos as palavras que ele usa para acusar
os outros, então ele fica com pouquíssimo poder; quando não
mais concordamos com os pensamentos que ele coloca em nossa
mente; quando paramos de reagir aos seus assaltos de maneira
humana e natural; quando continuamos a amar nossos irmãos
mesmo em meio aos ataques ao caráter deles; então o reino do
diabo está em apuros. É aí que homens e mulheres cristãos
alcançam a vitória e vencem o inimigo de Deus. A casa de Deus
está, então, sendo edificada de uma maneira sólida e real.
Como vimos, o amor é a única cola que mantém unido o verdadeiro
corpo de Cristo. Sem ligas artificiais, sem líderes, sem
práticas ou métodos para manter os crentes unidos, somente o
amor de Deus irá funcionar. Assim, o diabo dá o melhor de si
para atacar essa rara e preciosa conexão.
Se nós, agindo na carne, cooperamos com ele e criticamos,
difamamos, fofocamos e falamos mal de nossos irmãos, separamos
a única coisa que pode nos unir. Esse tipo de falatório
é pecado e deve ser evitado a todo custo. Quando nos descobrimos
envolvidos nisso, a única solução é um completo e profundo
arrependimento. Somente quando podemos vencer nessa
esfera é que vemos a casa de Deus sendo edificada em amor.

ADICIONANDO MAIS PEDRAS

Quando dois ou três irmãos começam a experimentar vitória
na área de amar uns aos outros, isto é o começo de algo muito
real e precioso. Quando cinco ou seis ou mesmo doze começam
a aproveitar um relacionamento de amor divino, então isso
demonstra que a fundação de Deus foi bem estabelecida, uma
base muita sólida, à qual Deus pode acrescentar muito “peso”.
Por exemplo, vamos supor que alguns irmãos estejam em
comunhão entre eles e com Jesus. Subitamente, talvez entusiasmados
com a revelação do que Deus está desejando, um grupo
inteiro de crentes resolve se unir a eles. Vamos dizer que esses
novos crentes sejam cerca de cem pessoas.
Se esses poucos irmãos originais não estiverem bem edificados
juntos, se o inimigo ainda tem alguma munição que eles não
conseguiram vencer, então o grupo poderá não passar no teste.
Mais cedo ou mais tarde, o diabo irá manobrar para usar alguma
cunha entre esses primeiros irmãos. Eles irão discordar sobre
alguma doutrina, direção, liderança ou situação.
Logo acontecerá uma ruptura da comunhão. Os cem que
chegaram depois também estarão confusos e divididos. Eles,
que pensavam estar chegando a um lugar de amor e unidade,
verão em vez disso, lutas e contendas. Uns ficarão de um lado,
e outros, do outro. Isso resultará em uma divisão do corpo e na
destruição da obra de Deus.
Antes que o Senhor possa acrescentar mais “peso”, os
primeiros poucos blocos (irmãos) devem ser bem assentados na
fundação. Devem estar solidamente unidos no amor de Deus.
Precisam ser pacientes e permitir que Jesus faça uma obra completa
em suas vidas individuais e entre eles. Então, e somente
então, eles serão capazes de suportar outros “blocos”.
Esse é um primeiro passo essencial na edificação da obra de
Deus. Não pense que pode saltá-lo. Você não pode acelerar ou
passar por cima desse processo. A menos que alguns irmãos
estejam juntos, completamente ligados no amor de Deus, qualquer
coisa que seja construída sobre eles não durará muito
tempo. Essa é precisamente uma das principais razões pelas
quais muitos grupos resplandecem por um pouco de tempo,
parecendo ter uma boa revelação e estar fluindo no Espírito
Santo e, então, de repente, desaparecem. Os primeiros poucos
irmãos da fundação não foram bem entrelaçados no amor de
Deus.
Jesus passou três anos e meio com Seus discípulos. Durante
aquele tempo, sem dúvida houve conflitos de relacionamentos
entre eles. Então Jesus os preparou. Ensinou-os a amar, a perdoar,
a oferecer a outra face, a ser meigo e humilde. Ele lhes ensinou
muitas coisas sobre como viver bem em comunhão espiritual.
Ele usava cada situação como uma oportunidade para
ensiná-los a viver em harmonia. Por exemplo, havia freqüentes
contendas entre os discípulos sobre poder, grandeza e autoridade.
Alguns pareciam desejar uma posição de proeminência.
Lidando com essas situações, Jesus os repreendeu diante de
todos. Ele afirmou repetidamente e com clareza que em Seu
Reino o maior deveria se tornar o menor. Ele também lhes deu
exemplos poderosos de serviço e de humildade (Jo 13:3-17).
Assim, depois de Sua morte e ressurreição, aqueles irmãos tiveram
uma edificação sobrenatural. Eles tinham uma história conjunta
de viver na presença do Senhor.
No dia de Pentecostes, havia cento e vinte discípulos em
uma “sala superior” (cenáculo). A maioria, senão todos eles,
havia passado muito tempo com os outros e também com o
Senhor. Eles haviam experimentado sólidos relacionamentos
sobrenaturais ou “edificações”. É evidente que eles tiveram,
pois, naquele dia, o Senhor escolheu acrescentar cerca de três
mil novos crentes ao número deles (At 2:41).
Surpreendentemente, esses cento e vinte suportaram esse
peso. Os apóstolos não começaram a competir uns com os outros
sobre quem teria a maior influência ou quem seria o maior.
Uma doutrina insignificante ou outra não os dividia.
Os problemas que surgiam não os faziam discordar e separar-
se em duas ou três igrejas diferentes. Os desafios que
enfrentavam não os induzia a desconfiar uns dos outros, a contender
uns com os outros ou a afastar alguns deles da Igreja. Isto
acontecia porque eles se amavam uns aos outros. Eles haviam
passado um tempo juntos na presença de Jesus, e Ele havia feito
uma obra eterna em seus corações.
Isso é o que todos necessitamos hoje. É essencial tirarmos
proveito dos poucos irmãos com quem temos comunhão. Esse é
o lugar de aprovação. Esses irmãos são aqueles com os quais
Deus nos colocou, e é com eles que precisamos aprender a viver
em harmonia e amor. Quando essa pequena parte da construção
de Deus estiver bem fundamentada, então pode ser que o
Senhor acredite que tal parte de Sua casa tem um alicerce forte o
bastante para suportar mais peso.
Talvez pensemos que tudo isso seria mais fácil se pudéssemos
encontrar alguns cristãos mais agradáveis e se pudéssemos
juntar alguns menos problemáticos, menos pecadores, menos
teimosos e mais sensíveis. Mas, Deus é quem coloca os membros,
um por um no Corpo, conforme lhe apraz (1 Co 12:18).
Os que Ele trouxe para junto de nós são aqueles com os quais
devemos ter comunhão; com quem precisamos vencer e superar
conflitos; e com quem permitimos Deus operar em nossos
corações, até que nos amemos como Ele nos ama.
Jesus sabe o que precisa ser feito em nossos corações. Ele
também conhece as necessidades dos outros. Então, quando Ele
nos coloca juntos, Ele vê como vai usar os nossos dons e a nossa
unção para ministrar ao resto. Ele vê como os outros podem nos
abençoar também.
Deus já planejou como os problemas e os pecados de outros
nos ajudarão a crescer. Ele já tem conhecimento de como as
fraquezas e os problemas deles irão impactar nossas vidas,
fazendo-nos morrer para nós mesmos, a fim de poder amá-los.
Ele designou que esses relacionamentos sejam os mais eficazes
para tratar os nossos problemas, promovendo o nosso verdadeiro
crescimento espiritual.
Assim, vemos que estamos exatamente onde Deus quer que
estejamos. A menos que Ele nos dê uma clara direção para nos
mover para algum outro lugar, a situação onde estamos é perfeita.
Se encontramos pessoas com o mesmo plano e a mesma visão
da casa de Deus, é ali que precisamos estar e permitir que Deus
faça a Sua obra em nós e por meio de nós.
Quando Ele nos considerar prontos; quando estivermos
transformados à Sua gloriosa imagem; quando não formos mais
suscetíveis à obra do inimigo; então Ele poderá nos usar para ser
eficazes nas vidas de um número maior de pessoas.

ROMPENDO A COMUNHÃO

Então, quando é que temos permissão para cortar o relacionamento
com alguém? Qual é o ponto em que os pecados de
outra pessoa são tão grandes que não se espera que os suporte-
mos mais? Quando é que desistimos de alguém? A resposta
deve ser “quase nunca”. Nós só podemos desistir de amar nossos
irmãos, quando o próprio Deus desiste deles. Deus não
desiste facilmente.
Entretanto, Jesus dá algumas regras para a continuação de
nossa amizade com alguém que nos ofende. Nós lemos: “Se teu
irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo
uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou
três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os
atender, dize-o à igreja; e, se recusar também a ouvir a igreja,
considera-o como gentio e publicano” (Mt 18:15-17).
Aqui temos uma fórmula para lidar com o irmão que peca
contra nós. Primeiro vamos até ele e não a qualquer outra pessoa.
“...se ele se arrepender, perdoa-lhe” (Lc 17:3). “Não te digo
que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18:22).
No entanto, se ele não quiser ouvir, devemos levar conosco
duas ou três testemunhas. Se o irmão, ainda assim, não recebe a
nossa reclamação, somos autorizados a levar o assunto para um
grupo maior. Finalmente, só depois destes três passos, nos é
permitido cessar de nos aproximar dele em amor.
É meu entendimento que o “você” final, no versículo 17 de
Mateus capítulo 18, é singular. Isso significa que você, pessoalmente,
pode afastar-se do relacionamento com aquela pessoa, se
você já seguiu o procedimento acima. Isso não parece ser um
método de exclusão de alguém da Igreja em geral. Essa não é
uma fórmula para aplicar a “disciplina da Igreja” em cima dessa
pessoa. Embora seja freqüentemente aplicada dessa maneira,
parece que, nesse caso, somente você (singular) está dispensado
de manter comunhão com aquela pessoa.

UM IRMÃO “DEVASSO”

Parece haver também outras situações onde nossa comunhão
com os outros não se mantém. Há uma passagem onde
Paulo nos ensina: “...que vos aparteis de todo irmão que ande
desordenadamente e não segundo a tradição que de nós
recebestes” (2 Ts 3:6). Quando alguém não está caminhando em
comunhão com Jesus e, portanto, “não está caminhando na luz”
(1 Jo 1:7), torna-se muito difícil ter comunhão com ele.
A palavra “desordenadamente” acima quer dizer caminhar
em pecado consistente e sem arrependimento. Pelo fato do
coração dele não estar procurando pelas coisas de Deus, realmente
não há benefício algum em tentar construir junto com ele.
Embora possamos ser usados por Deus para resgatá-lo desse
mau comportamento (Tg 5:19-20), faltando arrependimento na
parte dele, nenhuma associação de longa duração serve para
construir algo eterno. Se persistimos, corremos o risco de ser
contaminados também com o pecado dele.
Esse princípio se aplica a muitas situações. Quando se torna
muito óbvio que um irmão ou uma irmã não está verdadeiramente
procurando o reino de Deus, não precisamos gastar o
nosso tempo e energia tentando manter comunhão com eles.
Quando eles resistem à autoridade de Jesus e estão claramente
sendo conduzidos pela carne, então não podemos construir
junto com eles também. Se repreender e admoestar não produz
arrependimento, então, manter uma intimidade com tais pessoas
não edificará a casa de Deus.
Paulo também ensina, referindo-se àqueles que se opunham
aos seus ensinamentos: “Se alguém ensina outra doutrina e não
concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e
com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende,
mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que
nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas,
altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados
da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1
Tm 6:3-5). Desses, é bom nos afastarmos!
Nenhum cristão que ande na carne pode colaborar com você
na construção da casa de Deus. Paulo então ensina que é melhor
não gastar seu tempo com esse tipo de pessoa. Isso não significa
que você não deva continuar a amá-los e a orar por eles.
Simplesmente quer dizer que precisamos investir nosso tempo e
energia servindo àqueles cujos corações estão abertos para Jesus
e para o Seu reino.
As Escrituras não estão reivindicando aqui algum tipo de
atitude severa e detestável, de rejeição e ódio, o que é muito
comum hoje, em vários grupos cristãos, para com aqueles que
deixaram de concordar com eles. Não há nenhum pensamento
sobre interromper toda comunicação, tratando-os brutalmente
ou com desamor, quebrando laços familiares e afastando-os,
como se eles fossem uma praga. Tais atitudes não refletem o
coração de Deus. Em vez disso, essa parece ser uma reação natural
e branda a respeito daqueles cujos corações não estão buscando
o governo de Cristo.
Quando os outros não estão em submissão e em comunhão
com a Cabeça do corpo, as relações espirituais se tornam quase
impossíveis. Nós, portanto, somos aconselhados a, em vez de
tentar manter algum tipo de amizade carnal, simplesmente concentrar
nosso tempo e esforços naqueles que estão buscando a
Jesus. A resposta automática, espiritual, é trabalhar junto com
aqueles que estão “caminhando na luz”.

AUTOPODADURA

De um modo geral, a Igreja verdadeira experimenta uma
autopoda. Usualmente, não precisaremos gastar tempo preocupando-
nos em excluir alguém. Eles normalmente irão se excluir.
Se nós e aqueles com quem temos comunhão íntima estamos
vivendo em legítima comunhão com Jesus, não sobra espaço
para a carne. Haverá ao nosso redor uma atmosfera de santidade
e de compromisso.
Qualquer um que entre em contato conosco deve sentir isso.
Se eles o fazem e são atraídos, isso é muito bom. Mas, pela
minha experiência, muitos não têm essa atitude de coração.
Alguns não estão prontos e nem desejosos de se render comple-
tamente a Jesus. Isso não é bem o que estão procurando, nem
algo pelo qual estejam esperando. Embora possam se sentir
atraídos pelos relacionamentos amorosos que vêem, freqüentemente
não se sentem confortáveis com um compromisso total
para com o Senhor.
Então, essas pessoas não permanecem entre nós. Embora os
vejamos lá uma vez ou outra, eles mesmos parecem se excluir do
companheirismo, por sua falta de desejo por Jesus e somente
por Ele. A verdadeira comunhão só pode ser conhecida por
aqueles que têm uma reciprocidade de compromisso total com
Jesus e de uns para com os outros.
Na Igreja primitiva talvez essa situação não fosse tão simples.
Naquela época, havia somente um grupo de pessoas que
era chamado de “a igreja”. Então parece que havia a idéia de que
todo aquele que nascia de novo tinha que se encaixar num só
grupo. Mas hoje, os crentes têm muitas opções. Se não se sentem
atraídos pelo que estamos fazendo, há milhares de outros grupos
onde podem procurar aquilo que desejam. Eles podem
encontrar um grupo que satisfaça suas expectativas.
Um exemplo disso pode ser alguém que esteja procurando
um lugar de autoridade e reconhecimento. A princípio, ele ou
ela pode imaginar que uma atmosfera de abertura e amor é uma
plataforma perfeita para iniciar um “ministério”. Ao se deparar
com a experiência da verdadeira Igreja, porém falhando em enxergar
a liderança invisível de Jesus, talvez se confunda, imaginando
que a aparente ausência de liderança indique que ele ou
ela mesma pode assumir tal posição.
Depois de descobrir que isso não irá funcionar, provavelmente
essa pessoa partirá para procurar um lugar mais adequado.
Em 1 João 2:18,19, lemos: “...também, agora, muitos anticristos
[aqueles que tomam o lugar de Cristo] têm surgido; pelo
que conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio,
entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos
nossos, teriam permanecido conosco; todavia eles se foram para
que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.”

VOLTANDO-SE PARA SATANÁS

Em uma ocasião, Paulo recomendou que os crentes dessem
um passo radical. Quando alguém estava pecando espalhafatosamente
e sem arrependimento, ele os instruiu a entregálo
“...a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito
seja salvo no dia do Senhor” (I Co 5:5).
Em outra situação, dois homens, Himeneu e Alexandre, tinham
caído em pecado óbvio. Eles se recusaram a ouvir a voz de
suas próprias consciências e a se arrepender de seus pecados. A
autojustifição neles foi tão longe, que suas vidas acabaram em
blasfêmia a Jesus e à Sua obra. Não há dúvida de que Paulo e os
outros cristãos tentaram adverti-los e resgatá-los, mas foi inútil.
Então, Paulo foi levado a tal ponto de desespero que decidiu
entregá-los a Satanás, para “...serem castigados, a fim de não
mais blasfemarem” (1 Tm 1:20).
Parece que o pensamento por trás desse ato extremo é que
Deus iria remover a proteção física daqueles dois indivíduos.
Então Satanás poderia atacá-los de várias maneiras, possivelmente
incluindo doenças, ferimentos ou morte. Por causa do
sofrimento que tal punição poderia produzir, esperava-se que
essas pessoas abandonassem seu pecado e se arrependessem.
Entretanto, podemos “entregar a Satanás” tudo o que quisermos.
Mas somente quando Deus, que conhece e julga os nossos
corações e os nossos motivos, decide que tal coisa é boa para
a pessoa que está sendo punida, é que Ele deixará isso acontecer.
É Deus quem está protegendo todos os Seus filhos. O fato de
alguns decidirem que um dentre eles necessita de punição pode
não refletir as atitudes do coração do Pai.
O lado positivo é que esse tipo de oração deixa toda a disciplina
nas mãos de Deus. Isto não indica alguma ação evidente
que o próprio grupo pratique para punir alguém.
Não acredito que qualquer um de nós possa chegar rapidamente
a tal oração. Mesmo se chegarmos a esse ponto, não deve-
ria ser com uma atitude de ódio, ira ou contenda, mas com a
esperança de que esse remédio cure e salve aquele que está
sendo julgado dessa forma.
Notem a atitude amorosa de Paulo em 2 Coríntios para com
aquele crente que ele havia anteriormente entregue a Satanás.
Parece que esse homem, que havia dormido com a mulher de
seu pai, havia se arrependido. Assim, imediatamente Paulo
desejou perdoá-lo e recebê-lo de volta à comunhão. Ele diz: “De
modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para
que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza. Pelo
que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor” (2 Co
2:7,8).

A DISCIPLINA NA IGREJA

Durante todos esses anos em que estive caminhando com o
Senhor, ouvi muitas coisas sobre a “disciplina na igreja”. Diferentes
grupos de cristãos têm achado adequado retirar um
irmão ou uma irmã de suas reuniões. As justificativas para isso
são variadas, mas a prática é quase sempre a mesma. Algum
irmão ou irmã é expulso do grupo, e então o resto não tem mais
nada a fazer com eles. A intenção parece ser sujeitar o ofensor à
maior dor emocional possível.
Freqüentemente, tais expulsões são feitas para proteger uma
liderança estabelecida. Ao invés de refletirem o coração de Deus,
são meramente um jeito de ficar livre de alguém que não está se
conformando ao programa. Assim, é simplesmente uma
maneira conveniente para o líder manter sua própria autoridade.
Embora já tenhamos encontrado uma situação na qual Paulo
parece recomendar uma ação do corpo assim para com um
irmão pecador, certamente isso não foi feito de uma maneira
maliciosa, odiosa ou cruel. Segundo as outras cartas de Paulo,
especificamente 1 Coríntios, capítulo 13, aprendenmos que o
amor de Deus deve dominar todas as nossas palavras e ações.
Todo e qualquer passo tomado deve ser feito com a esperança de
resgatar e restaurar o ofensor. Nosso agir deve refletir o coração
de Deus.
Certamente existem ocasiões quando o pecado de um irmão,
que recusa a se arrepender, leva os outros crentes a parar de
manter comunhão com ele. Entretanto, tal decisão da parte do
corpo deve ser guiada pela Cabeça. Nunca devemos ter pressa
em excluir alguém que Jesus ama. Tais passos não podem ser o
resultado de uma disputa de poder, inveja, falta de perdão ou
qualquer outro motivo carnal.
Somos livres para descontinuar a comunhão somente quando
o próprio Jesus tiver mostrado que o coração daquele indivíduo
é pervertido. Isso significa que ele não está genuinamente
procurando Jesus nem o reino Dele e está só aproveitando o relacionamento
com outros por motivos egocêntricos.

A DISCIPLINA NA IGREJA PERTENCE À CABEÇA

Minha conclusão é que a disciplina na Igreja pertence à
Cabeça. Jesus é o único responsável por qualquer disciplina que
possa ocorrer. Embora tenhamos esse exemplo de Paulo,
induzindo algum tipo de oração conjunta com respeito a um
irmão pecador, está claro que a resposta àquela oração permaneceu
no controle de Deus. Não eram os irmãos que executavam
algum tipo de julgamento sobre outros. Isso ainda permanecia
nas mãos de Deus.
No capítulo anterior, falamos sobre o fato de Jesus ter mandado
julgamento sobre alguns crentes. Tal julgamento sobreveio
àqueles que estiveram bebendo e comendo seu alimento juntos
de maneira indigna (1 Co 11:29-30). Esses irmãos estavam falhando
em respeitar os outros e em tratá-los como membros do
corpo de Cristo. Eles não agiram com os outros como se
estivessem agindo com o próprio Jesus. Falharam em “discernir”
o corpo do Senhor (1 Co 11:29). Portanto, tornaram-se
fracos, adoeceram e até mesmo morreram.
No livro de Apocalipse, temos outro exemplo de julgamento
divino. Jesus adverte “Jezabel” e aqueles que cometem pecados
sexuais com ela, sobre julgamentos futuros, se eles não se
arrependerem. Lemos: “Eis que a prostro de cama, bem como
em grande tribulação os que com ela adulteram...” (Ap 2:22).
Não há dúvida de que esses versos de Apocalipse têm aplicações
espirituais mais profundas do que um simples exemplo
de adultério, mas a mensagem é clara e afirma que é o próprio
Jesus quem irá exercer Seu julgamento. Ele é quem “sonda
mentes e corações” (Ap 2:23). Ele é capaz de discernir os
motivos de cada um. Portanto, Ele, e somente Ele, é digno e
capaz de executar o julgamento apropriado quando isso é
necessário. Tais julgamentos ocorrem mais apropriadamente
quando o trabalho feito é Sua obra.
Algumas histórias que tenho ouvido parecem confirmar esse
pensamento. Vou tentar contar uma delas agora. Um amigo meu
aqui do Brasil, foi visitar a África do Sul há alguns anos atrás.
Foi junto com um grande grupo de crentes para testemunhar
um avivamento que estava acontecendo lá.
Na percepção dele, aquela era uma genuína obra de Deus.
Eles não tinham nenhuma liderança oficial. Era o próprio Deus
quem dirigia suas vidas e os seus encontros. Avida centralizada
em Cristo e a comunhão entre eles realmente o impressionaram.
Enquanto estava lá, contaram-lhe uma história.
Cerca de uma semana antes da chegada dele, um pastor de
uma outra igreja havia vindo a uma das reuniões. Já que essas
reuniões eram abertas para quem quisesse dar uma mensagem
de exortação, esse pastor levantou-se para pregar. Não muito
tempo depois de ter iniciado a sua mensagem, ele caiu morto na
frente de todos. Mais tarde, soube-se que ele estava vivendo em
uma situação, de adultério. Parecia que Deus havia julgado essa
situação, sem que ninguém precisasse fazer a Sua obra em Seu
lugar.
Creio firmemente que necessitamos deixar as nossas próprias
mãos fora da obra de Deus. Jesus é quem está construindo a
Sua Igreja. Ele é o Ungido para realizar essa tarefa. Então vamos
simplesmente segui-Lo em obediência. Ele fará o resto.
Não há necessidade de que tentemos nos disciplinar uns aos
outros. Esse pensamento é infantil e ridículo. Se alguém se
arrependeu, devemos perdoá-lo imediatamente. Se ele continua
no pecado, precisamos orar para que o próprio Deus trate com
ele à Sua maneira. Quando levamos essas situações a Ele, Ele
sabe como lidar com elas e tem o poder para fazer isso.

NOSSAS OBRAS SERÃO JULGADAS

Embora tenhamos nossa parte a executar, construir a Igreja é
realmente obra de Deus. Não é algo que façamos para Ele, mas
algo que Ele faz por meio de nós. Vamos novamente nos lembrar
de que Jesus disse: “...edificarei a minha igreja...” (Mt 16:18).
Conforme vimos nos primeiros capítulos, Ele é a força, Ele é o
centro, Ele é a substância, Ele é o foco, Ele é a Vida e Ele é o
Cabeça de tudo.
Jesus é a fundação que permanece. Somos exortados a ter
cuidado com o que construímos sobre essa fundação. Somente
construindo com a substância do próprio Jesus, é que podemos
erigir algo que passará no teste da eternidade.
Essa é uma advertência extremamente importante. Embora
muitos não tenham dado importância ao que isso significa ou
aos resultados da desobediência nessa área, é um fator essencial
em nossa construção junto com Deus. Cada crente deve ter essa
verdade firmemente implantada em sua mente, de tal maneira
que ela guie suas palavras e comportamentos.
Quando Jesus voltar, Ele irá julgar nossas obras pela
abrasadora intensidade de Sua presença. Tudo que não foi “feito
em Deus” (Jo 3:21) será certamente consumido pelas chamas.
Nessa ocasião, haverá um embaraço extremo, um momento de
grande vergonha, se descobrirmos que muitos dos nossos
esforços foram simplesmente manifestações de nossa natureza
humana.
Se nossos trabalhos para Deus foram meramente o resultado
de nossa própria inteligência, educação ou habilidade; se eles
são apenas realizados por aquilo que o homem natural pode
fazer; se são apenas o fruto da sabedoria e do esforço humanos;
naquela ocasião o desgaste e a ineficácia de nossas obras
rebeldes serão evidentes diante de todos.
Portanto, é uma incumbência para cada um de nós nos
humilhar diante de Deus. Precisamos nos arrepender completamente
de tudo aquilo que fizemos sem que a fonte tenha sido
Ele. Precisamos desesperadamente parar com toda obra que seja
simplesmente de madeira, feno e palha. Todo esforço que seja
meramente um empenho humano deve ser abandonado.
Em seguida, precisamos cultivar uma intimidade com o
próprio Jesus, que se tornará a fonte e a inspiração para todo o
nosso serviço em Sua casa. Precisamos aprender a permanecer
ligados à videira, de tal maneira que o fluir da Vida Dele em nós
irá produzir frutos sobrenaturais (Jo 15:5). Necessitamos desenvolver
uma comunhão espiritual com nosso Senhor e Rei, que
guiará nossas palavras, obras e passos.
Desta forma, e somente desta forma, quando estivermos
diante Dele naquele dia, receberemos uma recompensa eterna.
Não seremos envergonhados, tendo nossas obras queimadas em
Sua presença. Nós O ouviremos dizer, diante de todo o
Universo, que observa e espera: “Muito bem, servo bom e
fiel...entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25:23).