DEIXE O MEU POVO IR!CAP 7 – A UNIDADE
DA IGREJA
O PONTO DE VISTA DE DEUS Para viver e
trabalhar em harmonia com os pensamentos de Deus,
precisamos antes ver as coisas do Seu ponto de vista. Qual é este ponto de vista? É este: quando Deus olha para baixo, do céu, Ele não vê milhares de "corpos de Cristo". Ele vê apenas o Seu único corpo. A Bíblia afirma especificamente que "Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados numa só esperança de vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos." (Ef 4:4-6) Há realmente uma única igreja. Este é o ponto de vista de Deus. Enquanto nós, do nosso ponto de vista terreno, podemos ver as muitas divisões, "igrejas", denominações, seitas, etc., que dividem este corpo, na realidade ele é somente um. Sem dúvida, Deus concebe que estes diversos segmentos existem. Ele deve estar ciente deles. Entretanto, quando olha para a Terra, Deus vê somente uma igreja, uma noiva. Portanto, para trabalhar em harmonia com Ele, precisamos adotar o Seu ponto de vista. Também precisamos começar a ver a igreja como uma só. Conforme caminha com Ele, você deve notar que Deus, embora esteja ciente das divisões dentro de Seu Corpo, visita cada uma de suas partes. Ele ama a cada um de seus membros, ama a todos eles. Ele ministra a cada grupo, igreja e denominação. Seu cuidado amoroso, Sua abundante graça, Seu poder para libertar e curar, Sua obra de santificação, estão disponíveis para todos, sem exceção. Realmente, quase todo grupo de crentes verdadeiros, não importa qual seja a posição doutrinária deles, os costumes, as práticas ou ênfases tradicionais, experimenta a presença de Deus de um modo ou outro. Portanto, podemos perceber que nosso Senhor visita e ministra a Si mesmo em qualquer reunião de cristãos abertos para Ele e prontos para receber Dele. Ele não é limitado por suas divisões. Ele não é interrompido por seus muros doutrinários. Ele não é impedido pelas suas práticas peculiares. Ao contrário, Seu amor O compele a ministrar a eles usando qualquer abertura disponível. Não há dúvida que estas divisões o aborrecem. É bem provavel que Ele gostasse que as coisas fossem diferentes. É certo que tais facções são contrárias à Sua vontade manifesta. Entretanto, à Sua maneira humilde, Jesus visita e ministra a Si mesmo a cada pequena parte do Corpo de Cristo. Vamos considerar isto muito cuidadosamente. Já que nosso Senhor se comporta deste modo, como é que nós devemos nos conduzir? Somos melhores do que Ele? Somos mais santos do que o Espírito Santo? Podemos nos separar dos outros porque eles são causadores de divisão? Temos a permissão Dele para sermos mais discriminadores ao decidir a quem iremos ministrar ou com quem teremos comunhão? Certamente a resposta para isso deve ser "NÃO". Portanto, precisamos adotar a perspectiva celestial de Deus quando tomamos a iniciativa de trabalhar com Ele na construção de Sua noiva, a Sua Igreja. Os outros podem ter suas divisões, no entanto nós não devemos ter nenhuma. Alguns podem ter seus muros e barreiras, mas para nós eles não podem existir. Muitos podem se isolar do resto do Corpo, criticando os outros e sentindo-se superiores por causa de seus entendimentos, suas lideranças ou suas práticas. No entanto, para aqueles que são íntimos de Cristo, estas coisas não deveriam nos impedir de amá-los e servi-los. Hoje em dia é impossível quebrarmos todas as diversas barreiras de separação que existem no Corpo de Cristo. Não podemos eliminar todas as divisões. O problema é grande e difundido demais. Entretanto, existe um lugar onde podemos eliminar todas estas tais barreiras. Há somente um lugar onde toda divisão pode cessar de existir – em nossos próprios corações. Sendo cheios do amor de Deus e motivados por ele, podemos adotar o Seu próprio ponto de vista. Podemos deixar para lá esses impedimentos criados pelo homem e então, quando e onde pudermos, ministrar Jesus Cristo a cada pessoa do Seu povo. Nós, povo de Deus, somos livres. Somos livres para amar a todos. Somos livres para receber a todos, abraçar a todos, servir a todos e até mesmo nos encontrarmos com todos. Nossa atitude para com cada membro do corpo de Cristo e até mesmo para com as diversas reuniões de Seu povo, podem ser as mesmas atitudes de Deus. Podemos amá-los e ministrar Cristo a eles. APENAS UM IMPEDIMENTO O único limite a esta manifestação de unidade vem quando começamos a colaborar com outros na construção da casa de Deus. Temos sido claramente exortados a construir apenas de acordo com a visão celestial. Portanto, não somos livres para nos lançar em qualquer construção que encontrarmos. Não é sábio nos envolvermos em obras e esforços humanos. Não podemos ajudar outras pessoas a construir algo que não satisfaça os desejos de Deus. Entretanto, embora não devamos nos unir a muitos grupos cristãos naquilo que eles estão construindo, ainda podemos amá-los e servi-los em várias maneiras. Enquanto pudermos discernir que a construção deles não é eterna e que não devemos perder tempo em colaborar com eles neste esforço, ainda é possível colocar ao lado este impedimento e ministrar o Espírito de Jesus Cristo onde e quando isto for possível. Em muitos casos é possível encontrar maneiras, assim como Deus faz, de compartilhar Sua vida eterna com eles. Talvez, por trabalharmos deste modo, quando a aparência exterior do comportamento humano for queimada pela presença de Jesus em Sua vinda, algo precioso e eterno irá permanecer. Seremos capazes, por meio da sabedoria e do poder de Deus, de construir algo sólido e duradouro, em vez das construções terrenas. É verdade que devemos tomar cuidado para não nos envolvermos e sermos atolados em organizações humanas, mas também é verdade que, pela sabedoria de Deus, podemos ministrar Cristo em quase todas as situações. Nunca devemos perder a visão da casa de Deus e nos embaraçarmos com obras religiosas terrenas. É necessário sempre discernir cada situação e tomar o cuidado de construir apenas com os materiais de Deus e à Sua maneira. Deste modo, assim como Jesus encontra meios de Se ministrar aos outros mesmo no meio de várias construções imperfeitas, também nós podemos trabalhar junto com Ele para amar e servir ao Seu Corpo. Quando vemos o pecado dos outros, quando percebemos que as divisões existentes são contrárias à vontade de Deus, não precisamos fugir e nos esconder. Também não temos obrigação de excluir estes “pecadores” de nossa esfera de amor e serviço. Não temos necessidade de evitar todo contacto com eles por medo de sermos contaminados por estas divisões. Esta é uma reação simplesmente natural e carnal. O ministério de Jesus nos dá um exemplo a seguir. Lemos que Ele frequentemente ministrava nas sinagogas em Seus dias (Mt 4:23, 9:35). Entretanto, estas reuniões não eram bíblicas. Em nenhum lugar da Bíblia Deus instruiu os judeus a construir sinagogas e a realizar reuniões nelas. Esta foi uma invenção religiosa meramente humana. Então, Jesus as evitou? Ele desviou o Seu nariz e pensou – não vou me envolver nesta obra humana, não bíblica e ímpia? Não! Ao contrário, Ele ia regularmente ministrar-se ao povo (Lc 4:16). É verdade que o sistema da sinagoga não mudou devido ao Seu ministério. É certo que a maioria não foi transformada por Suas palavras. Houve, indubitavelmente, muitas vezes em que Jesus não foi bem recebido. Ocasionalmente, até mesmo tentaram matá-Lo. No entanto Ele, persistentemente, ia à sinagoga porque sabia que muitos dos que lá estavam tinham fome Dele. Jesus amava a estas pessoas e usava cada oportunidade para ministrar-se a elas. Jesus não se tornou o líder de sinagoga alguma. Ele não tentou “trabalhar dentro do sistema” para trazer alguma mudança. Ele não foi impedido pelas obras humanas e práticas religiosas. Entretanto, usou cada oportunidade para apresentar-se (Lc 4:16-21) para servi-los com o pão da vida. Nós, Seu povo, somos também livres para viver e trabalhar do mesmo modo que Ele fez. COMO O CORPO SE DIVIDE A Igreja de Deus é única. Há uma unidade espiritual inerente em toda a Igreja, que inclui cada crente desde o tempo em que Jesus Cristo morreu na cruz por nossos pecados até o dia de hoje. Embora isto ocorra, a Igreja verdadeiramente está dividida em várias maneiras. Primeiramente, a Igreja está dividida em duas categorias: os membros da Igreja que já morreram e partiram para estar com o Senhor e aqueles membros da Igreja que ainda permanecem na Terra. A realidade física da morte divide a Igreja nestas duas categorias. Mas também a parte da Igreja que “permanece” aqui na Terra está dividida em várias partes separadas. Estamos falando não sobre o problema da divisão, mas sobre os fatos das limitações físicas. Um destes limites é a geografia. Então, o Corpo de Cristo está dividido geograficamente. As pessoas vivem em países diferentes, em cidades diferentes, em bairros diversos. Faz parte da natureza dos homens se reunirem em comunidades, então a Igreja também se divide fisicamente, da mesma forma. Assim, a única Igreja verdadeira se separa em uma Igreja em cada comunidade. Obviamente é impossível que estes crentes nestes locais díspares se reúnam, se encontrem e sirvam uns aos outros diariamente. Portanto, vemos que a única Igreja de Deus se divide em unidades locais. Por exemplo, a Bíblia fala de uma Igreja nesta ou naquela cidade. Estas não são Igrejas realmente separadas, mas são simplesmente partes da Igreja verdadeira que existem em um ou em outro lugar particular. Tal separação geográfica não implica, de maneira alguma, que os cristãos que vivem nestas diferentes cidades sejam divididos espiritualmente dos outros que vivem em lugares diferentes. Tudo o que isto indica é que existe uma divisão terrena e prática em comunidades. O fato de que esta separação física não deveria envolver nenhuma separação espiritual é claramente mostrado pelos ensinamentos bíblicos sobre hospitalidade. As Escrituras nos ensinam que devemos acolher bem os estrangeiros. Precisamos abrir nossas casas e nossos corações para os irmãos que estão passando por nossa cidade (Rm 12:13, 1ª Tm 3:2,Tito 1:8, 1ª Pedro 4:9). Estes versículos nos mostram que devemos ter o mesmo amor, a mesma sinceridade e a mesma unidade espiritual com cada cristão, independente do local em que ele viva. Assim, é evidente a percepção de que a unidade real se estende para além da divisão física da Igreja por localidades. Embora a Igreja esteja geograficamente dividida, a unidade do Espírito ainda prevalece. LIMITAÇÕES DE NATUREZA PRÁTICA Em cada cidade pode haver milhares de cristãos. Dependendo do tamanho da cidade e do número de cristãos, provavelmente é impossível que todos se conheçam. Chega a ser impossível que todos se encontrem e tenham comunhão cotidiana. Por esta razão, na prática a Igreja de Deus está ainda mais dividida. Os membros da única Igreja podem frequentemente se reunir em pequenos grupos quando se encontram para louvar e orar. Entretanto, estes cristãos ainda são membros da única Igreja em sua cidade, a qual é apenas uma pequena parte da única Igreja verdadeira. Novamente precisamos conceber que esta divisão da Igreja com relação a encontros em determinados lugares, é apenas física e nunca deve levar à desunião espiritual. Este é só uma limitação de natureza prática. Embora possa ser impossível que todos os crentes de uma mesma cidade se reúnam em uma única sala ou auditório, o princípio da unidade permanece o mesmo. Embora certamente estes crentes possam se encontrar em casas independentes ou em outros locais, seu compromisso com o serviço e com o amor devem ser para todos e não simplesmente para um grupo distinto com o qual eles tenham uma associação mais freqüente. LIBERDADE PARA SE ENCONTRAR COM TODOS Precisamos também considerar um outro erro comum. É comum o ensino que o grupo onde nos reunimos com os outros crentes é um tipo de “absoluto”. É uma espécie de lugar santo com o qual estamos comprometidos. Se nos encontramos com o grupo "X", por ex., então não devemos nos encontrar com o grupo "Y". Porém tal pensamento não está e nem nunca esteve no coração de Deus, nosso Pai. No livro de Atos lemos que os crentes se encontravam “diariamente, de casa em casa” (At 2:46). Isto significa que um dia alguns se reuniam em uma casa e, no dia seguinte, em outra. Mas, seguramente havia alguma além. Com toda certeza, cada reunião não era uma entidade distinta e separada. Sem dúvida, alguns dos que se encontravam em uma casa, também se encontravam em outras casas, com crentes diferentes, dependendo da direção do Espírito Santo. Vamos considerar este fato. Talvez o “irmão José” se encontre com um grupo na terça feira à noite, na casa de alguém. Isto significa que na quarta feira ele não pode se encontrar com um outro grupo em uma outra casa? Certamente que não! O irmão José é um membro do Corpo de Cristo. Ele é livre para encontrar-se com todo e qualquer crente do mundo inteiro. Tem liberdade para congregar com diferentes crentes a cada noite, se quiser. Nenhum irmão ou irmã está debaixo de qualquer constrangimento bíblico que o limite a apenas uma reunião com um grupo em particular. Quando fazem isto, estão provocando uma divisão. NOSSA ATITUDE DE CORAÇÃO Muito embora o Corpo de Cristo esteja “dividido” por constrangimentos geográficos e práticos, ainda permanece a questão de nossa atitude de coração. Para manter uma posição bíblica, precisamos também manter o coração cheio de amor por todos os filhos de Deus. Nunca devemos nos tornar exclusivos em nossas atitudes ou ações. Nosso amor deve ser o mesmo por todos, quer nos encontremos frequentemente com eles, quer não. Esta deve ser a nossa posição. Devemos amar a todos, servir a todos, abraçar a todos e ministrar a todos. Nossos corações devem ter esta disposição se quisermos agradar a Deus. Precisamos receber e preservar o ponto de vista de nosso Pai celestial. Á Sua vista, tudo é apenas um só Corpo (Ef 4:4). Nossa obrigação é viver, agir e nos mover nesta realidade. Não faz realmente diferença se os outros concordam conosco. Pode ser que eles nem mesmo gostem de nós. As coisas podem chegar a um ponto em que os outros crentes verdadeiramente lutam contra nós e até mesmo desejam nos matar (Mt 10:16-22). Mas a atitude de nosso coração deve permanecer aquela de amor e perdão. As instruções de nosso Senhor são para amar os nossos inimigos. Isto também se aplica a irmãos ou irmãs que se tornam nossos inimigos. Ter unidade espiritual significa que o laço de amor fraternal nunca se rompe. Permitam-me, por favor, esclarecer melhor isto com uma ilustração. Dois crentes que morem na mesma cidade, mas não se conhecem. Um pode estar se encontrando com os cristãos com os quais está familiarizado e o outro, com aqueles que ele conhece. Entretanto, se for para eles se encontrarem, deve existir entre eles, harmonia e unidade. Eles devem se aceitar e se amar um ao outro, assim como aqueles que já se conhecem. Isto só será possível se eles não tiverem uma atitude de coração que produza divisões ou que provoque a ruptura da unidade do Corpo de Cristo. Esta é a genuína unidade espiritual. É algo inerente a cada cristão e, portanto, possível de ser experimentado por cada cristão. Embora a unidade seja primeiramente espiritual, ela tem uma expressão real, tangível – o amor fraternal. A IGREJA EM CORINTO No livro de 1ª Coríntios, lemos sobre um grupo de pessoas, a Igreja de Corinto, que, evidentemente, não tinha esta experiência de unidade. A Igreja daquela cidade estava dividida em várias facções ou partidos. Paulo escreveu uma parte desta Epístola aos Coríntios com o propósito de repreendê-los e exortá-los a serem um no Senhor. Como esta passagem nos lembra a situação entre tantos cristãos hoje! Lemos em 1ª Coríntios, capítulo1, versículo 10: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos a mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer. Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer, com isso, que cada um de vós diz; ‘Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas e eu, de Cristo’. Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes batizados em nome de Paulo?” (1ª Cor 1:10-13). Estes versos poderiam facilmente ser escritos para a Igreja de qualquer cidade de hoje! Tal divisão é uma situação comum entre os cristãos de nossos tempos. Na verdade, muitos cristãos foram ensinados que é apropriado que se dividam desta maneira. Quão lamentavelmente longe do ideal da cristandade das Escrituras. Cada grupo diz: “somos desta crença” ou “somos daquela opinião”. “Eu sou carismático”, “eu sou pentecostal”, “eu sou dos que batizam por um outro método” ou “eu sigo um determinado líder”. É assim que encontramos uma grande parte da Igreja de Deus hoje – dividida, argumentando e discordando uns dos outros. Um grupo de cristãos talvez desconfie dos motivos, ensinamentos ou métodos do outro. Um outro grupo ainda, pode ter ciúme do outro porque este tem mais membros ou um prédio mais extravagante. Todas estas coisas apenas dividem a Igreja de Deus. Argumentações, contendas e dissensões desta natureza entre os membros do Corpo de Cristo é uma atitude carnal e mundana. Vamos ler novamente 1ª Cor, desta vez no cap. 3, vers.1: “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tampouco agora podeis, porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: ‘Eu sou de Paulo’ e outro: ‘Eu de Apolo’, porventura não sois carnais?” (1ª Cor 3:1-4). O problema entre os cristãos hoje, em cada cidade, não é que existam muitos encontros diferentes. Isto é uma questão de necessidade. O problema é que cada um desses encontros possui uma identidade separada. Cada um destes grupos começa a aderir a certa doutrina, líder, prática ou caminho que o diferencie dos outros encontros dos cristãos genuínos naquela cidade. Cada grupo constrói um tipo de parede ou barreira para manter “suas ovelhas” separadas de todas as outras. Para cada grupo o ponto de separação pode ser uma coisa diferente. Entretanto, o resultado é o mesmo – a divisão da igreja em cada cidade em pequenas seitas ou facções que têm pouco ou nada a ver uns com os outros. Esta situação não é de Deus. É o que Paulo designa como carnal e infantil. Tal divisão destrói o funcionamento adequado do Corpo de Cristo e impede a obra de Deus na Terra. Permita-me ser corajoso para fazer uma pergunta. Há uma diferença entre dizer “sou de Paulo” ou “eu sou de Apolo” ou “eu sou de Cristo”, e dizer “sigo os ensinamentos de Lutero”, “eu sou batista”, “eu apóio uma certa organização do presbitério” ou “eu sou da igreja de Cristo”? Como a situação atual se assemelha com aquela da cidade de Corinto! Entretanto nós, seres humanos, justificamos fortemente o que estamos fazendo em vez de seguirmos os claros ensinamentos encontrados nas Escrituras. Certo, isto tudo é feito por boas razões, humanamente falando. Alguns estão tentando proteger o que chamam de “fé”. Outros podem estar tentando preservar da pureza alguma verdade que tenham descoberto. Outros ainda podem estar se esforçando para proteger seus membros de ensinamentos errados. No entanto, o resultado de todas estas razões bem intencionadas é desobedecer as Escrituras e dividir a Igreja de Deus. Pode ser instrutivo para nós lembrarmos que Paulo escreveu esta epístola à “Igreja que estava em Corinto”. Esta cidade estava repleta de divisões religiosas. Havia muitas facções diferentes e em desacordo. Entretanto, apesar destas divisões, Paulo reconheceu que esta era realmente somente uma igreja que, na verdade, era uma pequena parte da igreja verdadeira que existe hoje. Conforme vimos, a igreja de cada cidade consiste de cada crente verdadeiramente nascido de novo que habita naquela cidade. Além disso, todas as reuniões cristãs são realmente apenas reuniões daquela única igreja. Portanto, deveríamos nos empenhar por viver nesta realidade. Nossos encontros com outros cristãos não deveriam ser diferentes das reuniões do resto dos cristãos na cidade em que vivemos. Quero dizer com isto que nunca deveríamos ter algum tipo de membresia confinada, separada. Nunca deveríamos insistir em que alguém participe apenas dos nossos encontros, proibindo-os de participar de outros encontros cristãos com outros crentes. Nossas paredes deveriam cair e nossas portas deveriam se abrir. Assim também nossos corações deveriam se abrir para cada cristão com o qual entramos em contacto. Esta é a verdadeira unidade. A BASE DA UNIDADE A unidade cristã não é baseada em acordo mútuo a respeito de doutrinas. Por exemplo, não há dúvida que muitos não concordam com o que estou ensinando neste livro. Mas a nossa obrigação de amar uns aos outros transcende tal desacordo. Nosso amor pelos outros está baseado no fato que nós temos um compromisso com Jesus Cristo e com todos aqueles que pertencem a Ele. Verdadeira unidade não é o mesmo que unanimidade. A verdade sincera é que nós todos nunca concordaremos uns com os outros doutrinalmente. Sempre haverá diferenças de opinião. Nem todos têm a mesma revelação. Alguns carecem de compreensão espiritual. Outros não cresceram espiritualmente para receber certas verdades. O escritor aos Hebreus, por exemplo, tinha desejo de ensinar muitas coisas aos crentes, mas eles eram muito infantis para recebê-las (Hb 5:11). Outros, ainda, são teimosos, cheios de opinião ou apenas claramente errados sobre muitas coisas. Portanto, acordo doutrinal nunca poderá ser a base de nossa unidade. A verdadeira unidade também não é uniformidade. É verdade que somos exortados a “ter a mesma mente” e a “falar as mesmas coisas” (1ª Cor 1:10). Entretanto, esta meta não pode ser alcançada pela insistência em que todos concordem conosco. Este ideal só pode ser atingido através da obra do Espírito Santo em cada indivíduo. Se insistimos em que aqueles com os quais temos relacionamentos espirituais falem, ajam e pensem apenas de acordo com certas linhas predeterminadas, nós podemos conseguir uma aparência de uniformidade, mas nunca teremos a verdadeira unidade que Jesus deseja. Somos instruídos por Deus a manter a “unidade do Espírito” até que todos nós cheguemos à “unidade da fé” (Ef 4:3-13). Assim, vemos que a verdadeira unidade da compreensão espíritual, só virá com o crescimento, com a maturidade e, talvez, com a segunda vinda de Cristo. Mas, enquanto isto, somos exortados a manter a unidade espiritual – a unidade do Espírito – com cada membro do corpo de Cristo. A verdadeira unidade também não é conformidade. Muitos grupos de crentes pressionam seus membros, sutil ou abertamente, a se conformar a um certo conjunto de práticas e regras. Isto pode envolver o tipo de roupas a vestir, uma gama de atividades, uma organização das figuras de autoridade ou mesmo uma maneira peculiar e distinta de falar, interagir socialmente ou até mesmo de pregar. Entretanto, isto também não é unidade real. O homem natural pode ser ensinado e condicionado a se conformar a muitos padrões diferentes. O exército é um bom exemplo disto. Lá, todos se vestem, falam e agem do mesmo modo. Em alguns grupos cristãos, estas coisas também estão em evidência. Mas isto nada faz para acentuar nosso crescimento espiritual, nem nos transforma à imagem de Cristo. Nem isto se constitui em verdadeira unidade. A unidade que Deus está procurando é a de que todos sejam transformados, para se tornarem como a mesma pessoa, Jesus Cristo. A ORAÇÃO DE JESUS João capítulo 17 é uma oração especial. Aqui Jesus está intercedendo para que aqueles que o Pai Lhe concedeu sejam um (Jo 17:20,21). Como um novo cristão, eu acreditava que o que Jesus estava pleiteando a Seu Pai é que todos os crentes concordassem. Eu imaginava que Ele estivesse pedindo que a Sua Igreja não tivesse seitas ou divisões. Eu supunha que Jesus estava pedindo pelo tipo de unidade “horizontal” que produziria uma expressão visível do corpo único que Deus, na verdade, vê. Todavia, após alguns anos de caminhada com o Senhor, descobri que minha compreensão da oração de Jesus mudou. Se Jesus estava realmente pedindo uma ampla unidade de todos os crentes do mundo, então até hoje o Pai não O ouviu. Se a petição Dele foi que todos os crentes seguissem juntos, reunindo-se sempre, então por dois mil anos a oração de Jesus não foi respondida. Talvez alguns imaginem que, finalmente, agora que estamos no final desta era, aconteça algo que provoque a grande unificação dos crentes. Mas o fato é que provavelmente a situação só irá piorar conforme o fim se aproxime. No final desta era os cristãos irão começar a se odiar, ao ponto de um entregar o outro à morte (Mt 10:17-21). Nesta era, a oração de Cristo nunca será respondida por um aparente show de unidade. Então, como é que pode ser compreendida a oração de Jesus? O que é que Ele estava pedindo ao Pai? Para começar, precisamos ver que Jesus é um com o Pai. Ele disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo10:30). O Filho sempre teve (exceto por um breve momento, na cruz,) e ainda tem a mais íntima comunhão com o Pai. Eles estão em constante comunhão. A união entre eles é tão completa e íntima que a mente humana se exaure e suas palavras falham quando tentam descrevê-la. A união e a comunhão entre Jesus e o Pai estão além da compreensão humana. Há uma união completa, íntima e eterna. Esta intimidade é tão absoluta que Jesus insiste em que “aquele que O vê, na verdade vê o Pai” (Jo14:9). Esta união é tão completa que, quando Jesus estava na Terra, suas palavras e obras eram simplesmente uma expressão do Pai (Jo14:10). Incrivelmente, Jesus nunca era motivado pela Sua vida humana recebida de Maria, mas estava sempre vivendo pela vida do Pai (Jo 6:57). Jesus e o Pai têm completa unidade de espírito, coração e mente. Todos os seus pensamentos, sentimentos e ações estão em harmonia. Não há independência de mente, emoções ou ações neste relacionamento. Este é um relacionamento de amor eterno. O Pai ama o Filho e Lhe deu todas as coisas (Jo 5:20, 10:17). Tudo o que o Pai é e tudo o que Ele tem, pertence ao Filho (Jo 13:3). A intimidade entre Pai e Filho é tão extrema que somos ensinados que Ele é “a expressa imagem de Sua pessoa” [do Pai] (Hb 1:3). As Escrituras até vão mais longe, ensinando que o Filho é a total e completa expressão de tudo o que o Pai é. Lemos: “Porque Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9). E também: “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude Nele habitasse” (Cl 1:19). Esta pequena meditação é uma tentativa de ajudar o leitor a compreender pelo que Jesus estava orando. Ele não estava orando para que nós concordemos uns com os outro, por mais importante que isso possa ser. Ele não estava pedindo ao Pai que todos os cristãos se juntassem debaixo de uma única bandeira ou debaixo de um teto. Estava intercedendo por algo muito superior. Sua oração ao Pai era por algo que é tão grande que é quase inimaginável. Jesus estava pedindo que nós pudéssemos ser trazidos a esta mesma união e comunhão que Ele tinha com Seu Pai. Está certo. O desejo de Jesus é que Seus seguidores sejam trazidos por Deus para participar desta santa união e comunhão. Ele estava pedindo que nós também pudéssemos gozar da intimidade que Ele tinha com Seu Pai. Sua petição era que esta santa unidade que Ele e o Pai tinham, se expandisse para incluir também os Seus discípulos. Com este pensamento sublime em mente, vamos ler juntos: “Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que, pela sua Palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim e eu em ti; que também eles sejam um em nós” (Jo17:20,21). Este versículo não está falando sobre crentes tentando concordar uns com os outros, mas sobre algo muito mais alto e mais santo. Esta não é uma unidade “horizontal”, mas uma “vertical”. Então Jesus continua: “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um”. E como esta unidade pode ser alcançada? “Eu neles e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade” (Jo 17:22.23). Você vê que Jesus é verdadeiramente um com Seu Pai. E Ele tem amado tanto a Seu Povo, que deseja ardentemente que eles também entrem e participem desta santa unidade com Ele e Seu Pai. Isto é verdadeiramente boas novas. É uma parte importante da mensagem do Evangelho, pouca compreendida. Jesus tem convidado aqueles que acreditam Nele a nascerem de novo e a se transformarem de maneira tal que possam participar de Sua união com Seu Pai. Este é o lugar da Sua noiva na família de Deus. Qual é o resultado de nos tornarmos um com Jesus e Seu Pai? É que nossas vidas se transformam. Nossa natureza e caráter se tornam diferentes. Assim como Jesus era “a imagem” ou a completa expressão do Pai, assim também nós podemos nos tornar, através desta unidade com Ele, uma real expressão Dele mesmo. Conforme crescemos em Cristo, nos tornamos mais e mais um com Ele. Os pensamentos Dele se tornam os nossos pensamentos. Seus sentimentos, opiniões, desejos e propósitos também se tornam nossos. Quando este processo se completa, nós nos tornamos uma pequena expressão de Jesus. Então podemos afirmar como Paulo, que “...não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2:20). Esta modificação de nosso caráter e natureza se torna, então, um exemplo para o mundo. Quando não somos mais nós que vivemos, mas Jesus quem realmente vive, se move e se expressa através de nós, esta é a prova que Jesus é real. Quando ocorre esta unidade com Deus, é que “...para que o mundo possa saber que me enviaste e que tens amado a eles como tens amado a mim” (Jo 17:23). É então que “...o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17:21). Cristãos concordando uns com os outros nunca convencerão o mundo. Cada grupo ou cada clube tem algum tipo de coesão. Mas, a evidência real que Jesus é o Filho de Deus e que Ele tem todo o poder no céu e na Terra, acontece quando Seus seguidores entram neste tipo de união e comunhão com Ele, o mesmo tipo que Ele tem com o Pai. O RESULTADO O resultado de cada cristão se tornar mais um com Cristo e o Pai, será que eles também crescerão em unidade com os outros. Nossa unidade com Jesus produzirá uma unidade com os outros irmãos e irmãs. Talvez uma roda de bicicleta possa ser uma boa analogia para nos ajudar a compreender isto. Conforme os raios da roda se aproximam mais do eixo, eles também se tornam mais próximos uns dos outros. Do mesmo modo, conforme cada um de nós se torna mais íntimo de Jesus, também passa a ter mais unidade com os outros. Entretanto, esta unidade de uns com os outros não é, conforme já vimos, um tipo de unanimidade, uniformidade ou conformidade. É a conseqüência do trabalho de Deus para trazer cada um de nós à unidade consigo mesmo. Não é resultado da insistência em que crentes tentem viver em concordância uns com os outros, motivados por algum tipo de liderança ou sistema, mas um produto da obra do Espírito Santo. É verdade que unidade é parte dos desejos de Deus para Seus filhos. Também é igualmente evidente que esta unidade não pode ser alcançada por cristãos imaturos, semelhantes a crianças. Nossa leitura prévia em 1ª Coríntios nos dá ampla evidência deste fato. Crentes infantis nunca experimentarão a verdadeira unidade. A tendência deles para o egoísmo sempre trabalhará contra a genuína unidade. Eles discordarão sobre coisas triviais, lutarão por alguma posição de autoridade, irão invejar uns aos outros, falar mal uns dos outros, serão facilmente machucados uns pelos outros e muitas outras coisas mais. Os bebês cristãos nunca serão bem sucedidos em ser “um”. Suas naturais tendências carnais sempre prevalecerão porque elas ainda são mais fortes do que o homem interior, espiritual. A única solução que irá nos reunir é a maturidade espiritual. Todos nós precisamos procurar crescer em Cristo de modo que o amor Dele por Seus filhos se torne o nosso amor. Precisamos amadurecer espiritualmente de maneira que a nossa unidade com Jesus e com o Pai se traduza em uma unidade com o outro, também. Este caminho talvez seja comprido e difícil, mas é o único modo de alcançarmos a verdadeira unidade com nossos irmãos em Cristo. A verdadeira unidade vem da intimidade com o Pai. Conforme andamos em comunhão com Ele, sentimos o Seu coração. Começamos a compreender Seus sentimentos e desejos. Passamos a conhecer Seu amor por cada um de Seus filhos. O resultado de tal comunhão íntima será que seremos capazes de ter unidade com os outros. É responsabilidade de crentes maduros demonstrar e manter esta unidade. Eles são “...aqueles que O conheceram desde o princípio” (1ª Jo 2:13). Então eles devem ser os líderes em mostrar aos outros como amar, perdoar, sustentar, acreditar e ter unidade com o resto da Igreja. É seguindo o exemplo de crentes maduros que os mais jovens podem ser bem sucedidos em viver em amor e harmonia. Tal liderança na área de amor e unidade é uma parte essencial na experiência da verdadeira igreja. A verdadeira unidade é a prova real de nossa maturidade espiritual – se somos capazes de amar os irmãos. Este amor não será apenas por aqueles que concordam conosco e convivem conosco, mas por todos. Este amor também será manifesto até mesmo por aqueles que discordam de nós ou até mesmo nos odeiam. A intimidade com Deus, manifesta na maturidade cristã, é o único fator que pode produzir a verdadeira unidade. |